quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2009 já se vai... um brinde!... ao sarcasmo.

Bem, meu amado blog, feliz ano novo para voce. Queiram os Deuses que eu possa fazer outro brinde a voce em 2010.

Como eu adoro ser o que sou, ainda que eu seja humano (vai dizer que não é melhor ser um cachorro ou um gato ou um pardal?), é bem hora de criar vergonha na cara e mostrar um pouco de ingratidão.
Além disso, já faz tempo que não manifesto meu pessimismo. Em parte é porque vivo querendo, praticamente ordenando sutilmente, que todos ao meu redor pensem positivo. E é bom que estejam pensando mesmo.
Meu leitor ideal é cruel e me odeia. Isso me faz escrever coisas que não me deixam em xeque. Mas dane-se (sorrindo), afinal o que está inundando minhas veias nesse momento não é a comoção caridosa do ano-novo, mas uma imensa quantidade de sarcasmo e adrenalina degradada, o que resulta em quê?
SECURA IRÔNICA

Como não bebo, só me resta escrever. Porre de escrita é pior que porre de cuba com Velho Barreiro. Mesmo hoje, que é dia de cidra (alguém fica bêbado com cidra, pergunto-me) não estou procurando nada no álcool. Primeiro porque sou daquelas pessoas caretas epicuristas que preferem viver a vida lucidamente em cada momento (aquelas mesmas que quando bebem transformam-se completamente) e também porque sou do tipo que enche um texto com interrupções (entre parênteses). O que me leva a escrever, contudo, não é a SECURA IRÔNICA, ela corre paralela. O que me leva a digitar algo a essa hora em um blog (ainda) pouco lido é a vontade de fazer um brinde à ingratidão que faz parte do ser humano, ignorar está fora de questão.

Assim sendo, o que talvez não seja ingratidão mostra-se mais como um desabafo pessimístico das coisas que, somadas a algumas coisas alegres, resultam no que chamamos popularmente de "vida".
UM BRINDE, POIS!
Aos ônibus que atrasam e aos que saem mais cedo;
Aos clientes que não andam com troco e jogam pragas em voce e sua carreira;
Aos cidadãos que confessam que adorariam a corrupção se pudessem praticá-la;
Aos casais românticos que exprimem seu amor entre os solteiros encalhados;
Aos solteiros encalhados que exprimem seu mau-humor entre os casais românticos;
Aos joinvilleses que são tão (SUPRESSED) bairristas
Aos catarinenses que são tão (XXX) trabalhadores
Aos brasileiros que são tão (estrelinha) alegres
Aos estudantes de Letras
Aos paulistas ingratos que criticam Joinville SC
Aos pagãos que se preocupam mais com feitiços do que em viver
Aos cristãos que parecem bem cristãos
Aos professores que (não merecem que eu comente nada porque um dia vou ser um professor também).
Aos jornalistas, dos quais tentarei me abster formalmente, a começar por esta linha aqui onde a pedra fundamental do meu texto está cravada com muita amargura enraivecida.

Mas sobretudo um brinde a nós, seres humanos, bichos lunáticos que estão destruindo tudo: ambiente equilibrado, instituições sociais, relações, pessoas, conceitos. Um brinde a nós, que não fazemos quase nada certo.
A nós, que nascemos insanos.

E que os Deuses nos abençoem! E nos protejam de nós mesmos!

Feliz ano novo. Feliz 2010. Boa sorte, 2010.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Aritimética Indiossincrática (odeie nomes assim)

P.A.:
ai+ai = Voce sofre mais
ia+ia = Voce é moça rica
ai+ia = Voce cuida da moça rica
ia+ai = Voce quer saber como estou?

P.G.:
i+moral = voce não presta
a+moral = voce sabe que ninguém presta
i+gnus = fogo imoral
a+gnus = cordeiro amoral

Raiz Quadrada:
i = um marginal ladravaz
a = um sociopata desiludido
.........................................
uma aula de matemática para literatos. Ou não!

É, tomara que só pensem que eu bebo e nada mais...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

::: A Cabeça

Tênue Inspiração a partir da encenação de "Mythistorema 3", de Giorgos Seferiades, recitada na "Alegoria" das Olimpíadas de 2004, em Atenas.


A Cabeça


É involuntário. Quando acordo, olho para minha escrivaninha. Ela está lá, de olhos fechados. Ainda é de mármore, ainda é fria.

É uma cabeça, não tem expressão. Às vezes, não tem olhos nem lábios, é lisa e tem uma única protuberância (o nariz). Outras vezes é completa, é inteira, parece a cabeça de uma Deusa grega que dorme após matar as filhas de Niobe, e não sei de qual das duas formas tenho mais medo, da clássica ou da abstrata.

Eu tenho que levantar e carregá-la pelo resto do dia. Por onde quer que eu vá – trabalho, casa, rua, bar – ela está comigo. Eu carrego e a sinto pesada. Eu a levo e a sinto gelada. É um peso que carrego, sim, uma cabeça que não posso largar, uma cabeça que faz minha cabeça doer.

Quando vou dormir, não a vejo mais. Ela não está em minhas mãos. Ela sumiu. Juro pela última vez que não vou olhar para nada quando acordar.

Mas eu acordo.

Mas eu olho.

Ela está lá.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

::: Enquanto isso

Há quem chame de lixo cultural, mas adoro o Pretinho Básico. (http://wp.clicrbs.com.br/pretinhobasico/). Para o lixo intelectual que acredita em lixo cultural , favor ignorar.

Hoje escutei na rádio uma das convidadas do programa, a ilustríssima Rodaika, manifestar seu terror diante da degeneração intelectual dos adolecentes modernos. Meu psicológico tipo Peter-Pan ainda me inclui nas camadas adolecentes, mesmo sendo maior de idade e etc.
Em suma, a Rodaika pontuou como os jovens vivem cada vez mais para o mundo virtual/irreal do computador e cada vez menos no mundo real. A maioria dos jovens plugados, segundo a crença dela, usa a internet para relacionamentos (para o Orkut e além), e mesmo os que usam para informação estão se degenerando. Isso porque ela disse (e é algo com que agora concordo) que a pesquisa de um jovem hoje é diferente da pesquisa de alguém que já está formado e inserido no mercado de trabalho. O jovem hoje não se preocupa com os estudos, com a carreira, com as necessiades que o mercado de trabalho exigirá dele, com seu futuro. O tempo que passa no mundo virtual é do ponto de vista prático muitas vezes inútil (embora por outro lado eu acredite que conhecimento nunca é demais. Falar de conhecimento sim.), pois esse jovem não estará pronto, maduro o suficiente, quando tiver que simplesmente viver.

A chamada geração Y que passou por algumas revistas e está em pauta agora na psicologia do trabalho é qualificada como egoísta, do tipo que não se adequa às necessidades exteriores, ao invés disso busca um lugar no qual sinta que o sentido de estar ali é visível. Bem, sou anti-tendências-de-revistas-e-afins, mas se o pensamento das gerações para o trabalho e sociedade está realmente se encaminhando para esse lugar é uma boa oportunidade de sentar e discutir até que ponto o avanço tecnológico é realmente positivo (coisa que não fizeram com coragem quando estouraram a bomba atômica lá no Japão).
O avanço tecnológico e o uso da internet voltados para o consumo são desperdício de vida. Se voltados para benefícios próprios, que muitas vezes não voltam para a sociedade, são vaidade dos sábios de muita teoria e pouca prática.

Há diferença entre usar as oportunidades hoje após tomar as decisões da vida ou usar antes em detrimento da tomada dessas decisões. Vai que isso resulta em uma leva de pessoas imaturas e inconsequentes que não sabem resolver problemas nem planejar o futuro? Do jeito que o mundo está, é capaz de piorar.
Claro, graças aos Deuses não somos a mesma geração pós-guerra, não cultuamos a cultura hippie e nem bipolarizamos o mundo. Mas se o passado serve para alguma coisa, é para saber o que não deve ser feito.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

::: Antiga Questão

Dilemas modernos são mais velhos do que pensamos. Nada é realmente novo, arrisco dizer.

Casados Njord e Skadi(1), o deus do Mar e a deusa Caçadora, Skadi decide onde morariam(2).
Skadi queria que vivessem na antiga casa de seu pai, nas montanhas cobertas de neve. Njord desejava morar perto do mar(3). Combinaram que passariam nove noites nas montanhas e três noites perto do mar (4).
Ao voltar das montanhas para o mar, Njord diz (5):
"Odiosas são para mim as montanhas.
Por lá não fiquei durante muito,
apenas nove noites.
Os uivos dos lobos são feios
depois do canto dos cisnes"

Ao que Skadi responde (6):
"Não pude dormir
nas praias do mar
por causa do grito do pássaro,
a gaivota que me acorda
quando do alto mar
ela retorna" (7)

1- O casamento, essa bênção ou maldição, existe há muito e não só entre os mortais.
2- Quem casa quer casa.
3- Montanha ou praia? E dizem que "ovo ou galinha" é a pergunta que não quer calar.
4- Quem saiu ganhando?
5- Somente um Deus fala destemido para sua esposa. Homens mortais devem manter silêncio para evitar a guerra, para isso que nasceram com pescoço e habilidades vocais mínimas (balance a cabeça e só diga "humhum" ou "hãhã")
6- Mulheres sem resposta? Se deixar uma assim, saboreie esse momento de triunfo, pois as alegrias da vitória se esvaem depressa.
7- Parece pouco comparar sono perdido de três noites por tristeza de nove noites, mas antes um homem com saudades do que uma mulher que dormiu pouco.

A sabedoria divina e os mitos estão aí para ajudar os mortais que usam os olhos para ver. E os dedos, hoje, para digitar.


















Texto original nas Eddas Poéticas, 23. A tradução aqui foi livre. Gravuras por W.G. Collingwood

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

::: Um texto e uma crise

Que dia para entrar em crise... Três trabalhos para entregar (mas antes tenho que começar a fazê-los...) e nenhuma vontade de fazer. Claro que não é a responsabilidade que me coloca em cheque. É ter que ser gente. Se eu voltar, será que posso ser bicho?
Gente muda demais. Muda o tempo todo. É uma coisa agora, depois já é outra, e por fim já não sabe mais o que é.
É a droga da crise. Não a crise econômica de que todos falam, que isso nao é crise, é alívio. Vai ver a crise realmente move a vida e é impossível existir em paz.

Bem, enquanto a crise não passa, o jeito é curtir as dúvidas. Individualidade é uma coisa tão boa, é ruim, mas é necessário, vê-la atacada. A gente é o que a gente defende, creio eu, então, se mudam nossos interesses ou se mudam nossas prioridades, mudamos por inteiro. Nossas idéias norteiam nossas ações e nossas ações nos constroem. E essa sinergia é tão fácil de ser quebrada ou controlada...

Enough.


::: Aquarela Dela (um texto antigo em um caderno novo)

Não que eu te ache um turbilhão de cores. Às vezes acho que você só tem duas.
Não vi as outras, é verdade, mas são do mesmo tom e não outra cores.
São tom da sua cor, bem como meu ódio é tom do meu amor. O verde claro é tom do verde escuro? Ou o verde odeia o outro verde e cada um é uma cor?
Quem é tom de quem? Meu ódio ou meu amor? Bem, não sei. Ambos rubros, ambos eu.
Bem, o que sei: o tom da sua cor é mais forte que o vermelho saturado do meu ódio.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

::: As artes da vida

Viver é uma arte. E a arte é filha da crise.
Escutei que é a crise que nos põe em movimento, que nos faz viver. Mas e quem se deixa vencer pelas crises? Também está vivendo?

Acontece que viver é uma arte, e assim sendo outras formas de arte derivam dela. Acordar é uma arte, trabalhar é uma arte, comer é uma arte, falar é uma arte, até matar é uma arte.
Reservo, contudo, o direito de crer que sonhar não é uma arte. Não os sonhos que se sonha acordado, como diria Shakespeare, mas aqueles sonhos que nos jogam para outros mundos, para além da vida, para além desse ateliê.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os cadáveres da felicidade

HÃO de concordar comigo, honrados amigos: não há amor mais belo do que aquele que se dá tragicamente entre o homem e sua felicidade. A felicidade é uma donzela que cai em nossos braços moribunda, apunhalada pelo desespero. Nós a temos em nossos braços até que ela morra, por isso a beijamos com avidez e ouvimos sussurrar brevemente, afinal, temos muito pouco tempo para declarar nossa paixão pela felicidade: ela logo morre!

Os sádicos e masoquistas são vermes. Eles pensam que podem se igualar ao destino e à humanidade. Não há sádico tão sádico quanto o destino, não há mazoquista tão mazoquista quanto o ser humano. E não é uma delícia ver a vida ruir?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

::: Amigos: esses desconhecidos

ONTEM de noite eu decididamente não estava legal. Contas atrasadas, desemprego, problemas com mulheres, trabalhos acumulados de faculdade. Resultado imediato: falta de concentração na aula de gramática e ânimo extirpado.

Parênteses! "ânimo", essa palavra tão singela... vem de anima, que em latim significa nada + e nada - que "alma". "Estou sem ânimo" = momentaneamente desalmado.

Bem (aliás, mal), como dizia, aqueles pequenos problemas do dia-a-dia estavam tirando minha paz. E, como sou implosivo, aposto que isso já me rendeu algumas horas de vida a menos (afinal, naquele mesmo dia descobri que as pessoas más vivem mais e as boazinhas vivem menos, palavra de Ana Maria).
Mas tudo melhora quando é dez horas, o momento em que o espírito do estudante se desliga do corpo e viaja pelo tempo e pelo espaço. E quando saí da universidade percebi que meu dom não falhou: o dom de, de repetente, perceber que todos os meus problemas tem uma solução e que a minha preocupação vem em excesso.

Só que eu não estava preparado para o que veio a seguir: eu esqueci meus problemas. É verdade que de tarde, enquanto eu estava escrevendo meu livro, também esqueci, mas assim que coloquei o último ponto final do capítulo, olhei ao redor e vi onde estava, passando pelo que estava passando. De noite, contudo, assim que cheguei no terminal de ônibus, reencontrei uma amiga de escola muito querida, uma dessas pessoas que têm o dom de animar (encher de alma?) o dia dos outros.
E não só ela: no ônibus, conversando com a galera (fundão da linha Tia Marta), desliguei total. Entrei em off. Nada de problemas, estes eram só assunto na conversa e mesmo assim mais pareciam coisa do passado do que complicações do presente.

Quando desci da limousine amarela, me toquei da terapia pela qual eu passei. Esse SUS do mundo fez com que eu percebesse o quanto eu estava me tornando pequeno diante dos meus problemas. Claro, hoje eu já lembrei deles de novo, mas muito mais forte na lembrança estão os quinze minutos de conversa com a galera amiga do ônibus... Realmente, concordo: o que seria da vida sem os amigos?

O irônico é que as contas que paguei hoje deram um valor menor do que eu esperava pagar. E meu FGTS sera na verdade mais que o dobro do que eu achava que ia receber. É, ignorância é uma bênção, mas a amizade é uma bênção maior ainda.

domingo, 1 de novembro de 2009

::: Enquanto isso...

A formiga e o elefante estavam caminhando lado a lado em uma estrada de chão batido. Certa hora a formiguinha olha para trás. Então se volta para o elefante e diz: "Elefante, olha só o poeirão que a gente tá levantando"

Como diria a agulha de Machado de Assis "Também eu tenho servido de agulha para muita linha imprestável". Bibliografia sugerida: "Um Apólogo", de Machado de Assis.

Ah, o prazer de estar vivo e poder gritar "JESUS, ME CHICOTEIA!"

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

As Muitas Faces do Eu

Eu sou o que sou.
O que sou é mistério.
Eu sou o que sou,
Não quero saber o que.

Sei o que não sou por enquanto,
E o que quero ser não importa.

Sei o que fui mas ignoro,
Serei mais do que já fui um dia,
tudo de uma vez só.

Eu rio quando estou alegre,
Eu choro quando estrou triste,
Eu arranco os meus cabelos e
Eu ranjo os dentes quando odeio.

Eu me queimo quando estou amando.
Eu não sou brasa, sou o salto mais
alto da mais quente chama do Inferno
E eu sou a mais santa das flamas do Paraíso.

Eu queimo, eu queimo, mas não viro cinzas.
Eu derreto. Eu sou ouro, e me misturo na terra,
Eu viro uma liga com a terra, eu fico puro.

Então me curvo. Ou então eu me ergo.
Então eu canto e exalto, ou
Então eu me esquivo e amaldiçoo.

Eu me espicho e alcanço ou então
Eu me contraio e desdenho.
Eu esnobo e cuspo em cima ou então
Eu me detenho e acaricio.

Então eu sinto. Então eu vivo. Então eu sou.
Eu rio, eu chora, eu gargalha, eu grita, eu sofre.

Eu sou.

Sou muito mais.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Momento Difícil

Atalanta é uma pequena cidade com menos de 4 mil habitantes em Santa Catarina. Seus habitantes são, em maioria, decendentes de colonos, e há três grandes potências na cidade: um par de postos de gasolina da mesma rede, uma beneficiadora de fumo e uma madeireira.

Havia uma família na pequena cidade composta apenas por pai e dois filhos. A mãe deixou-os quando a filha mais velha tinha 10 anos. O pai, cujo nome não lembro ao certo, tocou a família desde então.
Essa semana, quatro anos depois da mãe abandonar o lar, o pai da pequena grande família sofreu um acidente de trabalho na madeireira: uma carga de toras caiu em cima dele. Como ele era doador, não demorou para que chamassem os parentes e passassem o laudo da morte cerebral.

Camila e Alan, não conheço vocês. Não sei se seus nomes são com C e não com K, ou se são com um ou dois Ls, mas rezarei pelos dois. Não sei o que mais posso fazer, mas tentarei descobrir. Também rezarei pelos seus avós e madrinha que cuidarão de vocês. Espero que agora, mais do que nunca, sejam irmãos, e espero que não passem um momento do dia sequer sem apoio para uma hora tão difícil. Não sei como expressar minha tristeza de outra forma, espero poder expressar minha ajuda de outras.

Essa semana uma conhecida perdeu a mãe. Não vou me perguntar se isso é justo ou qual o sentido disso, porque da morte eu sei pouco e serei presunçoso se tentar falar de um sentimento que não senti.

Camila, Alan, pode ser que vocês jamais leiam este texto. Mas se crescerem juntos, saudáveis de corpo e mente, fortes e encontrarem a felicidade nas pequenas coisas de todo santo dia, ficarei muito mais agradecido. Amo vocês dois, mesmo sem nunca ter visto vocês ou sem nunca ter falado com vocês ou ouvido falar de vocês antes.

Como sabemos, nessa hora todo consolo é vão e todo apoio é pouco. Enquanto está escuro, vamos esperar o Sol nascer de novo.

domingo, 20 de setembro de 2009

Um conto budista

Diz a lenda que sobre aquela ponte, em um dia de primavera, passavam um monge idoso e seus discípulos jovens. Enquanto o mestre contemplava as águas rasas e de correnteza forte, percebeu um pequeno escorpião tentando inutilmente manter-se fora da água agarrando-se às pedras.
O mestre, compadecido da pequena criatura, correu até a margem do rio e entrou na água e conseguiu tirar o escorpião de lá. Mas no caminho para a margem, o escorpião, assutado, picou o dedo do mestre, que por instinto e resposta à dor acabou largando o escorpião no rio.

Sem pensar duas vezes, o venerável correu até a margem e apanhou um graveto, voltou para o rio e, com esforço, conseguiu fazer o escorpião subir no graveto e assim tirou-o da água e levou-o em segurança até a margem seca.
Assim que voltou para junto de seus discípulos, que a tudo viram, um dos jovens perguntou:
"Mestre, não entendemos. Por que se esforçou tanto para salvar um animal que picou a única mão que o ajudou?"

O mestre, sorrindo enquanto retomava a marcha, disse para os jovens:
"O escorpião agiu de acordo com a natureza dele. Eu agi de acordo com a minha."

domingo, 13 de setembro de 2009

A Foice dos Deuses

Acho que as pessoas constroem pirâmides enquanto vivem. Elas colocam algo no topo e todo o resto serve de base. Há quem coloque seus princípios, os princípios de outros, o trabalho, a família, o amor, o dinheiro, o sexo, o poder, a tristeza, a loucura, as aparências... O que você coloca acima de tudo? Seu amor por um ser superior? Suas contas atrasadas? Seu sábado à noite?

Hoje há tantas coisas que nos diminuem... Somos números nas estatísticas, cálculos de setor no mercado, consumidores pro comércio, fiéis para a igreja, eleitores (otários) para os políticos, enfim, somos muito pouco para os outros. Hoje temos mania de reduzir as pessoas, torná-las mais simples para que caibam em planos e cálculos e tabelas.

Não sou tão fã do Nietzche, mas amargamente reconheço que ele está certo quando diz que a sociedade degenera o homem. Há espaço para os fracos crescerem e para os fortes diminuírem, mas ao invés de haver igualdade e condições para todos, como em um grupo natural, nós pervertemos as leis naturais e as levamos aos extremos: Há o lobo alfa e o lobo ômega de um bando, enquanto na sociedade humana há os líderes mundiais e os párias. Nenhum ômega sofre tanto em um bando quanto um marginal ou miserável na nossa sociedade gloriosa. Nenhuma crueldade é suportada entre os lobos da mesma maneira que um homem é capaz de infligir a outro. "O homem é o lobo do homem", como disse Plauto.

Nenhum animal é tão perigoso para outro animal quanto um homem é para o outro. Nenhum caçador é tão cruel com sua presa e nenhuma predação ou competição são tão torpes. E ainda assim aceitamos viver nessas condições como se não houvesse forma de mudar.
Não sou niilista, mas também não sou sonhador o suficiente para acreditar que uma idéia aqui e acolá pode fazer a diferença e mudar toda uma sociedade. Isso tudo já se tornou maior que nós, nos perdemos em um labirinto que construímos e volta-e-meia reformamos.
Por isso acredito que o "cada um no seu quadrado" tem um lado positivo. Melhor cuidar da pirâmide do que do labirinto.

"Melhor viver um dia como o tigre do que cem anos como o cordeiro.", já diz o Bushido.

sábado, 5 de setembro de 2009

::: B de Brígida

O amor vence tudo, dizem os brasileiros, porque Amor omnia vincit, diziam os romanos.

::: B de Brigid

Brígida, Brigid, Brígite, enfim, A Exaltada.
Os celtas antigos não costumavam ligar os deuses a aspectos naturais/sociais especiais.
Enquanto, por exemplo, os gregos e os romanos tinham deuses para o céu, para a chuva, para o fogo, para a guerra, etc., os deuses célticos não regiam especificamente algum elemento natural amplo. A maioria estava ligada à terra em que era venerado, havia deuses para cada rio, para cada bosque; mas algumas dessas deidades tornaram-se pan-célticas, sendo veneradas por praticamente todas as numerosas tribos celtas da Idade Antiga, e apadrinhando terras inteiras, clãs numerosos ou ofícios importantes.

É o caso de Brigid, a filha de Dagda, o Bom, com uma poetisa. Ela tinha duas irmãs, também chamadas de Brigid, e as três são veneradas como aspectos únicos de uma mesma deidade.
Brigid, dama da chama eterna, é a protetora dos artesãos, sobretudo os ferreiros. Ela é a anciã, a mais velha, aquela que tempera o aço, aquela que alimenta a forja.
Brigid, a inspiradora, é a protetora dos bardos e poetas. Ela também está ligada à divina chama, pois seu fogo é a faísca que incendeia as mentes dos poetas.
Brigid, a curandeira, é aquela que fornece aconchego e asilo. Seu fogo é a fogueira do fim do inverno, ao redor dela reunem-se aqueles que esperam o fim do inverno e presenteiam-se com tempo para sonhar com a primavera.

Brigid, a Deusa da Chama Tríplice, é honrada pelo festival de Imbolc, ou Imolc, hoje um dos Sabbats dos Wicca e alguns outros grupos neo-pagãos. No Imbolc do hemisfério norte as noites vão ficando menos longas e chega a hora de planejar o que será feito durante a primavera. Os fantasmas da fome e do frio ainda não partiram, mas o sol já volta a brilhar mais tempo.

Brigid era tão famosa no mundo celta que tornou-se conhecida em diversas tribos. Os romanos associaram-na à Minerva, que por sua vez havia sido associada a Palas Atena, a deusa grega da sabedoria e da estratégia. E, mais do que isso, Brigid foi tão estimada pela humanidade que ela resistiu a uma mudança radical: Ela é, para muitos, Santa Brígida de Kildare, uma das Santas Padroeiras da Irlanda. Foi uma das tantas figuras pagãs que encontraram culto na emergência do Cristianismo.

Brigid é a abundância que vêm após a provação. É sonhar com a colheita enquanto ainda é inverno, é ver pronta a ferramenta enquanto o aço ainda está quente e disforme, é ouvir a música pronta enquanto ainda se acertam as primeiras notas. Parecemos estar esquecendo disso, nessa sociedade hedonista que nutrimos hoje. Usamos propagandas e subterfúgios para esquecer o inverno e não encarar as noites mais longas, enquanto queremos sempre ter ao alcance das mãos o que nos traz aconchego.

O segredo para se conseguir um bom texto (entre os outros mil!) é cortar o que ficou ruim, trocar partes inteiras de lugar, descartar o que é bom mas não se encaixa. Nem todo pedaço de ferro aguenta o peso do martelo ou a dureza da bigorna e acaba virando refugo. E, logicamente, a cura só existe por causa da doença.
Ouvimos falar dos nossos amados políticos roubando milhões, mas e nós? Nós, que votamos (deveríamos votas) neles, somos diferentes nesse ponto? Podemos não roubar rios de dinheiro, mas podemos dizer que em momento algum estamos esperando uma recompensa sem termos nos esforçado de verdade? Quantas vezes esperamos um milagre ao invés de agir? Deus não faz o que você tem que fazer, como li uma vez.

Os antigos pagãos sonhavam com as promessas de Brigid enquanto ainda estavam cercados pelo frio do inverno. A única garantia que tinham era o calor da fogueira e o brilho cada vez mais presente do sol. Ainda assim, sonhavam.
Talvez já estejamos escravos de nossos sonhos: esperando uma mudança que fará tudo melhor porque não mais nos acreditamos capazes de lutar por nossa própria conta.

Por Brigid, que eu não seja assim. Que eu não seja o verso cortado, que eu não seja o refugo da forja, que eu não seja a doença sem cura. Que o fogo da Exaltada nos ilumine e aqueça, mas que sejamos todos dignos de sua proteção e compaixão. Filha do Bem e da Arte, ela nos abençoa. Que seu amor cure nossos olhos, pois temo que chegará o dia em que enfim perceberemos que já faz tempo que não temos mais olhos para enxergar.

domingo, 30 de agosto de 2009

Entre Tu e Você

AINDA em processo de lapidação, como diria o bom Bilac


Entre Tu e Voce

Doce flor de meu Érebo frio,
Há de te abrires sob outra luz?
Não te mostro douraro brio,
Mas pelo verde ouro tu te seduz?

Hah! Quem sou eu para julgar-te?
Creio que o primeiro pecado foi meu.
Teu rosto gritou-me em disparate:
"De beber do meu néctar esqueceu?"

Não esqueci, fragrante flor,
só não fui abelha saqueadora;
Mas caso bem pensar-me for,
dispensa: fui cigarra zombadora.

Abandonei você aos ventos
Enquanto eu desfiava roca
Lê o que para ti escrevi na língua secreta que inventamos:
"There should be no reasons, never. And yet, there are many. Shall them all fall silent? No! William Blake told me it can be loud as the loudest cry!"

Meu escárnio tem meu sabor.
Ele é o espelho do teu sorriso.
Deixa-me frio esse teu calor
E Minha loucura te faz juízo.

Assim, lê nessas linhas amor não,
Enxergue só despeito, desamparo,
Que se amanhã vocês lamentarão,
Perco dourado brio que me é caro.
-----------------------------------

foi-se a métrica, ficou a preguiça... Desculpe, Bilac!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

::: É inevitável. Uma Série

QUANTAS coisas são inevitáveis ao longo de um dia?
Inevitáveis de seu ouvir, inevitáves de se ver, inevitáveis de se pensar, às vezes inevitáveis de se dizer...

Hoje, em um dos sete ônibus de todo dia, vinha quieto no meu canto após sair do trabalho. Na minha frente estava sentado um estudante de curso técnico, e ele por sua vez estava de frente para dois estudantes de ensino médio, creio eu. Sei que uma hora eu captei o assunto do mais velho:
"...bichice! Eu na quinta série já tinha ficado com uma guria da sexta. Na sexta série eu fiquei com uma do terceiro ano!"

Parte inevitável:
Contive minha língua, mas não pude sufocar no pensamento o "P...ut@ m³rd@!!!". E coloquei a cabeça entre as mãos pra não deixá-la mover-se violentamente em gesto de negação à realidade.

Inevitável.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

::: Enquanto isso

Sem erratas por enquanto.
Comentando algo que me aconteceu hoje:
Trabalho para a Secretaria da Fazenda de Joinville realizando um trabalho a campo. É inevitável, na cabeça de algumas pessoas, que elas façam a associação entre minha figura e o governo do atual prefeito. Uma cidadã me parou na rua e já foi disparando: "Isso é coisa do prefeito né? Aproveita bastante meu filho, mame bastante na prefeitura." E enquanto se afastava, acrescentou "Eu concordo com voces! Aproveite!" e com aquele risinho satânico da trapaça, se afastou.

Como mudar o Brasil se o Brasil não muda?

sábado, 22 de agosto de 2009

A fatídica "Mist Leben"


Mist (do alemão) traduzido para o inglês = Crap! Leben (Idem) traduzido para o português = Vida
::: Vida de Crap! :::

HÁ relatos e indícios históricos da Vida de Merda ao longo da história humana. Alguns historiadores acreditam que ela começou quando o Homo neanderthalis encontrou o Homo sapiens e percebeu que sua extinção estava próxima.
Há, contudo, teóricos místicos que acreditam que a Vida de Merda, tal como a astrologia, a matemática, a engenharia, a alquimia e a construção de bicicletas, são na verdade heranças de uma cultura anciã que sumiu com a mítica Atlântida. Segundo estes teóricos, as inscrições na Tábua de Esmeralda comprovam que a frase "Vida de Merda" fora ouvida no velho dialeto atlante no exato momento em que o continente desaparecido começou a afundar.

Sabe-se, por outro lado, que com o sumiço de Atlântida a Vida de Merda não sumiu do seio das civilizações humanas. Hieróglifos nas pirâmedes mostram que durante a primeira invasão hicsa, os egípcios mobilizaram um vasto exército para combater os invasores (de novo). Para sua surpresa, os hicsos sabiam que os egípcios consideravam o gato sagrado e que matar um gato era garantia de má sorte em vida e danação na morte. Os hicsos desceram de suas carruagens de guerra trazendo a lança em uma das maos e um gato na outra, usando-o como escudo. Os soldados do faraó teriam largado as armas no chão, e junto com seu soberano entoaram o canto "Vida de Merda".
Após a dominação de estrangeiros sobre o Egito (de novo), a Vida de Merda ganhou o mundo. Ela foi ouvida durante as invasões assírias por todo o Oriente Médio. É importante mencionar como a Vida de Merda se espalhou para os quatro ventos: Na construção da torre de Babel, as pessoas teriam começado a falar línguas diferentes. Isso transformou radicalmente a Vida de Merda, conferindo a ela um caráter global e um escopo sobre várias línguas e dialetos.

A pandemia de má-sorte assolou a humanidade. A Vida de Merda brotava dos lábios. ALguns fatos notáveis durante a Idade Antiga:
- Após a batalha de Maratona, o corredor grego enviado para dar a notícia da vitória aos seus conterrâneos teria morrido assim que caiu diante dos portões da cidade e gritou "Vitória!". Porém, alguns vigias perto do portão da cidade teriam escutado "Vida de Merdaaa..." como suas últimas palavras. Alguns historiadores refutam tal relato.

- Os romanos começaram a invadir a Gália, antiga França. O imperador Jílio César chegou bombando e detonou tudo e todos, mas Vercingetórix reuniu a resistência rebelde (3 R's da invasão: Reunir, Resistir, Rir diante da possibilidade de vitória contra as legiões romanas). Porém, durante a resistência, uma tribo local perdeu e todos os homens foram enfileirados para terem suas mãos cortadas como represália. Um bardo gaulês teria escrito o poema "As mil mãos cortadas e a Vida de Merda", tal como afirma Júlio César em seu livro "A Guerra das Gálias"

- Dizem que alguns druidas gauleses colocaram em César a maldição da Vida de Merda, o que o levou anos depois a ser apunhalado pelos senadores na sua volta triunfal à Roma, incluindo seu próprio filho adotivo, Brutus. Suas últimas palavras, como disse Tito, foram "To quoque Brutus, fillium meum! Merdarius vitae!" ou seja "Até tu Brutus, meu filho! Vida de Merda!"

- Na aurora de Roma, povos estrangeiros tentaram invadir a Cidade Eterna durante a noite através de uma incursão silenciosa no Monte do Capitólio. Infelizmente, o Monte do Capitólio era o viveiro dos Gansos Sagrados do Capitólio, que furiosamente (e ruidosamente) atacaram os invasores, alertando o exército da cidade. A guarda municipal subiu o capitólio e viu os bárbaros lutando ferrenhamente contra as aves, gritando "Vida de Merda!" enquanto tentavam não virar foie gras nas mãos dos penosos.

- Por fim, caiu o Império Romano. Os vândalos chegaram para saquear o que sobrou de Roma. Os nobres romanos, embriagados por mais uma orgia, receberam os invasores cantando em coro "Vida de Meeerda!! Não é fácil ser romaaanoo!", numa cena linda e épica descrita por pintores bárbaros como exemplo da fortitude e integridade de um povo conquistado.

Após a Idade Antiga acabar, a humanidade passou pela Idade da Vida de Merda, que os renascentistas renomearam de Idade das Trevas. Foi o período de maior azar para a humanidade até então. A Vida de MErda torna-se a base da sociedade naquele tempo:
- Plebeus não eram escravos, mas não podiam desobedecer, fugir, se rebelar, não pagar impostos e tinham de trabalhar vários dias na semana nas terras do senhor feudal sem receber nada em troca. Vida de Merda detected: Plebeus eram escravos.

- Os vikings expandem seu reino de conquista, terror e bebidas fermentadas. O mosteiro inglês de Lindisfarne foi atacado e destruído, seus tesouros saqueados e os monges mortos. As Sagas da era de ouro dos Vikings descrevem que, ao avistar os navios nórdicos se aproximando, os sacerdotes do mosteiro já dobravam os sinos enquanto corriam apavorados gritando "Ye Olde Crap Life! Ye Olde God shall help ye olde us!", o que apenas acrescentou glória aos relatos dos conquistadores do mar.

- Inimigos dos escoceses tentam invadir um castelo à noite (provalvemente eram decendentes dos espertos que escalaram o Capitólio para atacar Roma). Planejaram atravessar o fosso a nado e entrar sorrateiramente na fortaleza. Tiraram os sapatos e entraram na água, mas não podiam adivinhar que o fosso não estava cheio de água, e sim de Cardos. Desde então, o cardo é a planta mais espinhenta símbolo da Escócia. Dizem que até hoje ecoam nas colinas os gritos dos invasores ao bradar "Vida de Merda!"

- Guerra vai, guerra vem, a Peste Negra assola a Europa, matando um terço de sua população. A Vida de Merda torna-se um lugar-comum nos idiomas do Velho Mundo.

- Chega a vez do Império Romano do Oriente cair. Os exércitos Bizantinos, ao avistarem o imenso exército dos Turcos Otomanos, pensam se já não é ora de dizer Vida de Merda. Afinal:
* Dizia a profecia que Bizâncio só cairía se a lua não brilhasse mais sobre o céu. Ocorreu um eclipse.
* O Espírito Santo protegia Bizâncio. Uma erupção vulcânica no outro lado do mar iluminou o horizonte, e quem olhasse para a magnífica basílica de Hagia Sophia veria um clarão partindo da abóbada e subindo aos céus.
* Um dos grandes mistérios da história: Bizâncio era protegida por muralhas sólidas e um portõa imenso. Não sabem até hoje como os bizantinos esqueceram o portão destrancado.
* O último imperador bizantino lutou junto com seus homens nas ruas. Ele lutou sem armadura ou distintivos reais. Foi morto e enterrado em uma vala comum. Dizem as lendas que alguns turcos o reconheceram pelas botas violetas, a cor da realeza. Eles teriam se entreolhado e concordaram que era uma prova da famosa Vida de Merda da qual os ocidentais falavam durante as cruzadas.


E desde então a humanidade vem evoluindo enquanto involui, e a Vida de Merda a acompanha. Episódios famosos incluem
Galileu na Inquisição:
Inquisidor: "Tu negas as tuas teorias de que a Terra gira ao redor do Sol?"
Galileu: (em tom normal) "Ok, ela não gira". (Falando baixinho) "Mas ela gira".
Inquisidor: "Como é que é?"
Galileu: "Vida de Merda..."

Galileu passou o resto dos dias em prisão domiciliar impedido de fazer ciência.

Rei Felipe de Espanha após mandar a Armada invadir a Inglaterra:
Mensageiro: Meu rei, a nossa armada, a mais poderosa do mundo, invadiu a Inglaterra da rainha Elizabeth.
Rei Felipe: Ótimo! Quais são as notícias?
Mensageiro: Bem... Uma tempestade destruiu a maior parte dos barcos, e os ingleses tocaram fogo no resto. Mas parece que alguns pescadores conseguiram voltar.
Rei Felipe: ! (Desmaia convulsivo)
Mensageiro: É... Vida de Mierda!

A destruição da Armada foi a mais vergonhosa derrota espanhola e depois disso o reino não conseguiu mais se reerguer.

Nascimento do Capitalismo:
Nobre: Olá comerciante. Vi que tu tens bela prataria.
Comerciante: Poderias ter tudo o que ofereço, meu senhor.
Nobre: Então abre preço! Preferes pagamento em porcos ou em sacas de farinha?
Comerciante: lol (e fecha a porta da lojinha na cara do nobre, expondo o cartaz "Pague em ouro".
Nobre: Vida de Merda!


Revolução Francesa:
Rei Luiz: Mordomo 212! Vá lá fora ver que algazarra é essa nos portões. Meus convidados estão perturbados! Se for o povo pedindo comida de novo, raspe as sobras dos pratos dos cães.
Mordomo vai.
Mordomo volta: Meu rei, o povo se rebelou. A burguesia está ajudando a plebe. Parece que a Bastilha caiu e uma multidão armada está vindo para cá.
Rei Luiz: É sempre assim, ninguém nunca está contente com o que tem. O que eles querem dessa vez?
Mordomo: Vossa cabeça, majestade.
Rei Luiz: Rápido! Manda preparar minha carruagem! Ah, Vida de Merdé!

O rei Luiz foi pego fugindo da França. A família real foi executada.

Com o avanço regressivo da humanidade, avançou também o padrão da Vida de Merda. Hoje em dia, nos "tempos mordernos", a Vida de Merda faz parte de nosso dia-a-dia: Ela está no pé do motorista de ônibus que acelera ao invés de parar enquanto voce está praticamente dançando no ponto de ônibus mais do que uma corista de can-can. Ela está na mão do seu chefe que dá a promoção ou troca de setor (promoção) para o seu colega puxa-saco enquanto voce continua quietinho onde está com um sorriso amarelo na cara. Ela está no risinho diabólico da professora quando você chega na aula após o ditado ter começado há dez minutos, ou quando ela te entrega uma prova surpresa sobre a matéria daquele dia em que você faltou.

A Vida de Merda está em nossas vidas. Ela não degenerou, continua brotando em profusão de nossos lábios. Perdemos a carteira, acabam os créditos, levamos um pé ou um fora, nossos parentes vêm nos visitar (ficar na nossa casa), o cara da frente pega a última senha do banco, somos colocados na fila dos que "querem servir", o vizinho dá uma festa na véspera da sua prova de recuperação... A Vida de Merda é parte indiscernível do homem moderno.

Grite Vida de Merda. Liberte-se.

domingo, 16 de agosto de 2009

::: A de Anúbis


TENHO em mente um projeto baseado no blog de um ilustrador, infelizmente não me lembro seu nome e já não consigo achar o seu blog. Ele estava usando o alfabeto como fonte de inspiração para desenhar divindades. Id est = Na vez da letra A, ele ilustrava uma divindade que começasse com essa letra, e assim por diante.

Apesar de adorar desenhar, não pretendo exibir aqui meus dons nessa arte complexa do rabisco admirável... Mas gostei da forma proposta e vou segui-la.

Acontece que assim como o ilustrador anônimo, vítima de minha memória ruim (e da limpeza periódica do histórico do Firefox), encontrei uma "dificuldade" na hora de começar. A, bem sabemos, é a primeira letra de nosso adorado alfabeto, e quem é a primeira divindade que toma conta do consciente de qualquer um que tenha em mente pelo menos uma dúzia de deidades antigas?
Afrodite!

(Deception haze)

Mas, tal como o ilustrador anônimo, resolvi começar pelo Deus egípcio do julgamento e do tempo após a morte. Por isso, hoje é

::: A, de ANÚBIS

Anúbis é um deus ligado ao tempo. Por isso, se voce estiver interessado na biografia Dele, consulte a wikipédia na língua que lhe parecer melhor (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anúbis), (http://en.wikipedia.org/wiki/Anubis), (http://sv.wikipedia.org/wiki/Anubis).

Dizem os historiadores que os egípcios antigos associaram Anúbis (versão grega de Inpu, ou Anupu, como falavam a velha e boa gente egípcia) com o chacal - aquele ser que parece um cão mas não é um cão! - por causa dos hábitos desse animal: os chacais rondavam as necrópoles, afinal, eram também carniceiros e podiam escavar túmulos para procurar comida. Isso conferiu a Anúbis não só uma caracterização antropozoomórfica de guardião/vigia dos lugares dos mortos, mas também lhe deu um tom, uma vez que a cor preta à qual é associado está ligada não ao chacal, mas à cor dos cadáveres embalsamados com natrão (vulgo múmias) e, o que acho mais interessante, ao preto que também era a cor da terra fértil depositada nas margens do Rio Nilo nos tempos de cheia, o que simbolizava o renascimento através da promessa de uma nova vida.

Anúbis é filho da Noite e do Juízo, ou, dizem outros, da Noite e do Deserto. Talvez o mistério a cerca de seu genitor o tenha feito protetor dos órfaos. Daqui pra frente, o resto das informações fica pra wikipédia e além. Eu poderia escrever textos sem fim só sobre minha admiração pela visão de morte que os egípcios tinham, mas vou (tentar) me ater somente a Anúbis. Ele é uma das dezenas de divindades associadas ao pós-vida, o que só contribuiu para as horas em que os romanos ou gregos antigos diziam que os egípcios eram um povo fúnebre!
Fúnebres, definitivamente não. O produto de exportação cultural do Egito antigo era a vida após a morte, tal como o futebol de qualidade e o samba foram para o Brasil, tempos atrás (sighs). E assim como o Brasil não é só carnaval e mulatas, a cultura egípcia ancestral não era só morte e areia. Diferenças culturais, sempre. Hoje, muitos querem poupar dinheiro para construir a casa própria e comprar um carro; e no Egito antigo, os nobres poupavam dinheiro para comprar um Livro dos Mortos e garantir a salvação no Paraíso.

O Mundo dos Mortos no Egito era povoado por monstros medonhos. E isso é muito importante caso voce seja uma alma penada do mundo egípcio: cuidado! em cada esquina e atrás de cada duna há um monstro querendo devorar sua alma. Era onde Anúbis entrava. Ele era o protetor dos mortos. Dos mortos: O perigo não acabava durante a vida, ele continuava após a morte até o momento em que a justiça fosse feita, pois o morto devia achar seu caminho através das Portas do Destino e chegar ao Salão do Julgamento, onde Anúbis o deixava em segurança para ser julgado.
Quem sabe quem foi Tutancâmon também sabe que era Anúbis o responsável por colocar o coração do morto em um prato da grande balança do juízo final, enquanto Ma'At depositava a Pluma da Verdade no outro prato. Anúbis ajustava os pesos e verificava: Só chega ao Paraíso aquele cujo coração não pesar mais do que a Verdade.

Anúbis, deus que protege aqueles que já se foram, aquele que protege os que não tem ninguém, aquele que protege os que se vêm sozinhos. Os mortos, as almas, os agonizantes, os órfãos. Na verdade, nunca estiveram sozinhos. Sempre há um poder maior. A solidão é um período de trevas, mas ali está Anúbis: ele é filho da sombra da noite, não a teme porque ela corre em seu sangue, ela lhe é familiar. Não voltamos nossos olhos para a escuridão, talvez já não acreditemos que há alguém lá para nos proteger em meio a tanta angústia. Não estamos sozinhos, não totalmente.
Era hábito que uma estátua de Anúbis encabeçasse uma procissão. Afastava a má-sorte, é o que gosto de pensar. O tempo abrindo caminho. Anúbis era associado com coisas que hoje já não nos fazem sentido, como a mumificação, mas vão-se os hábitos e fica a essência. Enquanto os faraós eram embalsamados por devoção, de repente alguns nobres eram embalsamados por amor.

Mesmo os mais ímpios receberam os ritos fúnebres, e me pergunto para quê... Se acreditavam que a alma só alcança a imortalidade com o corpo devidamente preservado, deviam acreditar no que diziam os sacerdotes sobre o Lago de Fogo e a Devoradora de Almas. Mas parece que desde os tempos das pirâmides não nos preocupamos muito com justiça terrena. Assim como parece que a hipótese de justiça divina sirva apenas de consolo para os que são vítimas da injustiça dos grandes ou para mascarar nossa impotência.

Bem, chega. Sempre gostei de Anúbis. Para mim, sempre foi um deus calado. Por vezes, penso que Ele era amargurado. Não sei se era por ter sido filho de um adultério ou por que o ofício dos mortos é um dever ingrato, mas há algo que sempre vejo quando olho nos olhos do grande chacal: ninguém está sozinho. Ninguém deve ficar sozinho. Se não houver um par de mãos dispostas a embalar os esquecidos ou cuidar dos agonizantes, pode ser que mais ninguém o faça. Há Deuses para o Sol, para o Nilo, para o Trono e para a Fertilidade, mas consagrado como mumificador havia apenas um, um grande, e adorado por isso. Talvez, Ele não cuide das almas e dos cadáveres por prazer, e sim por obrigação. Talvez só lembrassem dele nas horas em que sangraram, exalaram pela última vez ou perderam a fé no outro mundo, mas Ele não se preocupou. Lembrem dele ou não, ofereçam-lhe preces ou não, cedo ou tarde chegaria a hora em que Ele os escutaria. E Ele jamais negará seu dever.


--------- PS: -------------------
Jumbriano: E aí, Heródoto, que achou do texto?
Heródoto: ¬¬
Jumbriano: Pensei em combinar o encerramento com a frase do Rabelais "O tempo traz tudo, para quem sabe esperar."
Heródoto: (sighs) prefiro o ditado egípcio: "De nada vale a fortuna para o homem sombrio."
Jumbriano: Arrasou de novo cara!
Heródoto: Ósculos, menino.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Outra de Esopo

Essa fábula servirá para um texto que espero postar em breve

O Homem e o Leão
Um homem e um leão eram companheiros de jornada, e ao longo de sua conversa começaram a vangloriar suas próprias proezas, cada um dizendo-se superior ao outro em força e coragem. Estavam discutindo acaloradamente no momento em que chegaram a uma encruzilhada onde havia a estátua de um homem estrangulando um leão.
"Olhe!" Disse o homem, triunfante "Veja só isso! Não é a prova de que nós somos mais fortes que vocês?"
"Não tão rápido, meu amigo" disse o leão "Este é apenas a sua visão sobre o caso. Se nós leões pudéssemos fazer estátuas, pode estar certo que na maioria delas você veria o homem embaixo"

domingo, 2 de agosto de 2009

Primeiro de Agosto

MAS olhe! Publiquei um texto novo sem nem ter me tocado que ia ser o primeiro post de Agosto. Agosto, mês de desgosto, mês do cachorro louco, et al...
Agosto, mês mal-afamado por causa dos eventos catastróficos que nele ocorreram (e.g. Guerras Mundiais e bomba atômica)... Talvez haja uma relação entre o meio do ano e a tendência humana de quebrar a monotonia com o caos e a calamidade. Enfim, viva Agosto, que seja um mês de confabulações com fábulas para todos nós!

For ye purists:
AN olive tree taunted a fig tree with the loss of her leaves at a certain season of the year. "You", she said, "lose your leaves every autumn and are bare till the spring; whereas I, as you see, remain green and flourishing all the year round". Soon afterwards there came a heavy fall of snow, which settled on the leaves of the olive so that she bent and broke under the weight. But the flakes fell harmlessly through the bare branches of the fig, which survived to bear many another crop.

Lembra Victor Hugo: "Mude as idéias, não os princípios. A árvore troca de folhas, não de raízes."

O Lance na Mesa

À MESA, estavam cinco. Uma velhota amarrotada, tanto na pele quanto nas vestes, medonha e desdentada. Sob o capuz negro, mechas ensebadas de cabelo branco imundo. Ao lado da desagradável, uma donzela linda de lábios negros como o carvão, pele branca e doentia, e mãos tingidas pelo sangue vívido. Alisando a barra de veludo preto do vestido da donzela, um homenzinho corcunda e de olhar claudicante, sua aparência deplorável despertava compaixão, parecia sentir-se indigno de estar ali.
Do outro lado do móvel de pedra fria, na cadeira de espaldar alto, uma mulher de meia-idade com longos cabelos grisalhos que formavam ondas, como uma cascata de fios de prata que desaguavam em seu seio. Sua bata perolada era límpida e imaculada. Ao lado dela, esparramada na cadeira e com as pernas abertas, uma jovem de pele rubra que parecia pulsar com o calor da emoção. Sorria, boba, e seus cabelos negros e secos chacoalhavam sem vento algum soprar por perto. E, por ser estranho, embaixo da mesa estava a outra figura: um esqueleto enrolado em mantos escuros, mas não tinha face visível por baixo de seu capuz. Na verdade, não tinha face, apenas o liso das vértebras e o fundo da caveira sem expressão. Foi ele quem começou a rodada: de onde estava, estendeu o braço descarnado e dobrou-o por cima do tampo da mesa. Abriu a mão e deixou cair o objeto desejado: a alma. E, de longe, contemplando aquela cena em total horror, o morto via sua essência sendo alvo de cobiça naquela mesa de aposta.
Com a voz das pragas e do luto, a donzela de preto, cobiçosa, deu o primeiro lance:
– Aposto mil lágrimas de órfãos e doze gritos de viúva! O morto é meu, pois quero o que fui buscar!
– Teu não! É daquele que oferece um dia de descanso para cada seis dias de labuta, e quatro horas de repouso para cada dez horas de vigília e mais outras de andança! – e era a mulher grisalha de bata perolada batendo o punho fechado e calejado no tampo de pedra. O homenzinho às costas da dama de negro ergueu os olhos, malicioso.
– Brincas! Há de ser de quem oferece a náusea da bebedeira, a ardência do cio e ânsia do quero-mais! – disse a moça de cabelo esvoaçante, rindo descontrolada e erguendo alto uma taça cheia de delírio.
– Ouve! Que não há quem pague coisa que preste pelo que nada vale! – e era a velha hedionda que grunhia, seu hálito nauseabundo espalhando-se – é uma aposta o que temos aqui, não um leilão! Que dar lágrimas, dias ou náuseas que nada, esta vulgaridade mais merece que eu aposte mais vinte e oito anos de vazio e mais dois minutos de suicídio! – e ergueu-se de supetão, suas unhas podres riscando a pedra da mesa. Viram que ela não tinha ventre, era seca na altura do abdômen tal como um caniço estiolado.
– Cala-te, tu que nada dá! – e a moça que ergueu a taça, ao dizê-lo, fazia mofa da velhota, rindo de sua cara carrancuda – é preciso dar para poder sentir, é preciso ferir para ver sangrar, é preciso gritar para sentir a vida!
– Volúpia! Isso é o que escuto – gritou a mulher de bata, que não podia mais suportar. Ela também levantou-se, e não tinha cor ou enfeite ao longo do corpo magro, apenas o mesmo tom, a mesma textura e o mesmo traço – para viver é preciso não viver, é agora que se pode entender a vida! A vida vivida não é vívida, a vida é vida quando a desvida é vivida!
O ratapulgo corcunda cuspiu no chão, e a moça de lábios pretos falou, desdenhosa:
– Escutaste volúpia, trabalhadeira? Pois eu escuto falácia, e a da tua voz! Desvida é assunto meu, é meu pseudônimo! É o nojo dos ossos e o asco da carne que fará entender a vida; é o medo do mundo e o beijo do escuro que fazem mais macia a sepultura, mais até do que a cama embolorada ou o berço esquecido! É o câncer amargo que delicia a existência finda, é o corte da lâmina que risca o riso tolo na face e nas mãos de quem foge de todas vós e corre para meu colo!
E antes que alguém protestasse, uma voz desesperadora soou, chorosa, e vinha de baixo da mesa. Era um lamento, não um discurso, e queria ser ouvida até quando falava só:
– Eu não sou deste mundo! Nem do outro, nem do de vocês, nem do da aposta! Sou do mundo dessa alma, sou pervertido e não quero olhar, mas quero beber do suco agridoce que escorre das horas perdidas, da vida vazia e da face em pânico! Quero saber o que é dar o lance nessa aposta, quero viver a emoção de tentar e ser tentado, sentir a vida mais vazia e a carne mais fraca!
– Cala-te, maldito! Ninguém aqui na mesa quer te escutar! – gritavam as quatro, mas aquele sem rosto continuou, e se tivesse órbitas, elas estariam inundadas:
– Quero o regozijo dos lençóis amarrotados e o deleite da dor nas juntas! Quero apreciar o desespero de ver-se vazio e incolor e mesmo assim nada poder fazer! Sou eu quem mais quer ganhar a aposta e receber o prêmio, mesmo sem poder desfrutá-lo, mesmo sem saber amá-lo! Que importa o fim para mim, quando não tenho nem o começo? Que importa a morte quando não sei o que é vida? Deis chance a mais um defunto que, como eu, morreu sem saber o que é viver!

As quatro não falaram mais nada. Trocaram olhares. O preço era justo. A dama de negro deu a volta na mesa e chutou para longe os ossos daquele que acabara de falar. A moça da taça riu e saiu correndo atrás do esqueleto sem rosto, humilhando-o e exibindo-se. A velha infecta começou a proferir obscenidades e pragas, e retirou-se arrastando o passo pesado de quem caminha sem ter para onde ir. O corcunda insignificante correu para seguir a dama de preto quando esta também se retirou com passos largos mas que avançavam muito pouco (e a cada passo, mas sangue pingava e mais gritos se ouviam).
E por fim ficou apenas a mulher calejada à mesa. Sua veste limpa balançou por um momento. Mas ela também foi embora, não sem antes deixar sobre a mesa um naco de pão duro e duas moedas de nenhum valor.
Quando o morto, até então distante e apavorado, correu para abraçar sua querida alma mais uma vez, não viu ninguém ao redor. Não ouviu mais nada por um longo tempo, até que, lentamente, ouviu uma batida ritmada tão lenta que mal conseguia ouvi-la. Era hora de ir. Para onde? Para o quê? Mas fechou em uma mão sua alma, e levou-a para perto do peito vazio. Com a outra, agarrou o naco de pão velho e as moedas que não tilintaram por não valerem nada. E saiu correndo, desesperado. Quando fechou os olhos enegrecidos, no fundo desejava mais do que nunca acordar na mesma banheira, com a mesma faca na mão, mas sem o sangue e sem as lágrimas, e sem aquele pânico que agora o fazia correr como o diabo da cruz.

Não é importante se o morto acordou, nem onde acordou, caso tenha conseguido. Muito menos como acordou. Também não é importante o quanto nem como ele viveu, pois não encheria uma linha se contassem apenas os fatos relevantes para ele ou para nós. Antes, o que importa é a dúvida: se à mesa estavam cinco, quem estava sobrando? O sem rosto ou o corcunda? Bem, era o corcunda, pois ele era a Bajulação, que tem medo da morte e nunca se expõe. E ele, de tão insignificante, de tão vulgar, não conta como um daqueles que um dia sentaram-se à mesa para mais uma aposta.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

UM OLHAR SOBRE Indiferença

A MOÇA que vi da janela do ônibus era bem vestida. Não estava mal-tratada como a maioria dos pedintes. Ela carregava o filho no colo e tinha uma bolsa nova em um dos braços. Enfim, não demonstrava nenhum sinal de decadência ou pobreza.

Mas ela estava indo de pessoa a pessoa, subindo a rua, pedindo dinheiro para comprar um passe de ônibus. De onde eu estava (dentro do ônibus) pela leitura labial (O.o) conseguia identificar “dinheiro pra passagem”. Mas das seis pessoas pelas quais eu vi ela passar, nenhuma ajudou. Ela estava bem-vestida, a criança também. Apenas um dos transeuntes, tão ocupados com suas próprias vidas fez menção de parar e revirar os bolsos, mas mal começou a fazê-lo, desconversou e seguiu para o restaurante, que era seu destino.

A maioria estava atrasada (atrasada para quê, me pergunto...), correndo do trabalho para o almoço ou do almoço para o trabalho, e simplesmente passavam pela moça pedinte, às vezes sem nem dizer um “não tenho”. Enquanto o meu ônibus avançava vagarosamente, ia acompanhando ela com os olhos, decidida a conseguir um passe ou os 2,30 reais para comprar um. Dado momento ela pediu para um desses figurões de carro do ano. Foi o único que insultou ela.
Ela não deixou barato, reclamou. Mas em voz baixa, quando o figurão já tinha fechado o carro e se afastado. Ainda assim, reclamou.

Há pessoas e organizações que exploram os demais. Há pessoas e organizações que lutam para proteger os interesses de alguns poucos ou de uma maioria abstrata. Esses dois tipos (de pessoas e organizações) são tão inglórios quanto aqueles que antagonizam.
Sobre as organizações que vivem da desgraça dos outros não tenho que falar, mas falo daquelas que dizem defender o povo. Daqueles grupos ativistas, dos movimentos sindicalistas, das organizações religiosas ou de grupos sociais. Quantos desses são falsos! Quantos desses são fachadas! Entregam seu manifesto para o sistema que tanto criticam, e uma vez que fazem isso estão prontas para se acomodarem. Levantam poeira com seus discursos contra a burguesia, pisam os ricos e usam frases de efeito, mas uma vez que entreguem um documento para o governo ou apareçam na televisão, correm para sua torre de marfim, de onde verão tudo continuar do jeito que está.
Criticam o sistema, sim, mas dentro do sistema. Quem critica não quer romper. Quem quer romper sofre, quem rompe tem que agüentar as conseqüências disso, quem agüenta as conseqüências está lutando por uma ideologia. Mas o comodismo, parece, é uma moda até entre aqueles que se dizem revolucionários, esquerdistas ou “pró-plebe”...

Se o Brasil (pensemos um pouco de cada vez) está do jeito que está, não é por causa dos exploradores. É por causa dos explorados. A elite exploradora, claro, não se absolve de toda culpa, mas o vírus infecta porque um corpo desleixado deixou-se vulnerável ao ataque. Se existe um abutre é porque há carniça no campo. Se os corvo destroem a plantação é porque seu lavrador a abandonou.
E é na indiferença nossa de cada dia que vamos vivendo. Indiferentes, corremos contra o tempo sem nem saber direito para quê tanta pressa. Para evitar uma bronca do chefe, para não perder o ônibus, para ganhar mais tempo. E o que fazemos com o tempo que ganhamos ao correr? Corremos mais.
E na indiferença, aprendemos a reclamar como querem que reclamemos, assim como nos mantemos cômodos em nosso trono de ébano enquanto o mundo continua igual. Igual não, piorando. Queremos mudança, mas não temos vontade para fazer isso acontecer. Queremos lutar por um mundo melhor mas não arregaçamos as mangas. Queremos um futuro melhor, mas relegamos isso ao outro e dizemos para o espelho que não somos capazes.
Indiferença, então! O homem não ajuda o homem, então quem o ajudará? Há quem se console na religião, sabendo que seu Deus irá confortá-lo no reino dos céus porque foi pobre. Enquanto isso, mantém-se indiferente para a esfera terrestre.
O trabalho dignifica o homem? Não é o que se pensou durante milênios, afinal, desde séculos antes de Cristo, trabalho é coisa de escravos enquanto a nobreza ou elite racial fica nos castelos se embebedando. Então o que dignifica o homem? Fé? Sim, mas não é a fé que ajuda o próximo, e sim a atitude.
Benditos sejam aqueles que, diferente de mim e tantos, não são indiferentes. São poucos, mas existem. Um ato de atenção com o próximo é valioso, um documento listando os direitos de um grupo social não vale mais do que o pó que pisamos todo dia na rua. Se existem direitos, é porque alguém quer atacá-los, dobrá-los à própria vontade. Se existe pobreza, é porque existe riqueza. Se existe capitalismo, socialismo, comunismo, e tantas outras ideologias é porque não sabemos governar nosso próprio quintal.
Pensei em estender o braço para fora do ônibus, chamar a moça e dar o trocado pro passe. Pouco me interessava se ela ia realmente comprar um passe, aquele dinheiro não era tão importante para mim naquele momento quanto era para ela. Pode ser que eu fosse precisar dele depois, mas ela precisava naquela hora. Não dei o dinheiro. Não me arrependo, mas preferia ter dado as notas. Espero que alguém tenha tido coragem para fazer o que eu não fiz. Espero que alguém não tenha sido indiferente. Era apenas um passe.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

UM OLHAR SOBRE Religião

A Discussão Indiscutível: Religião

ATÉ pouco tempo, eu chegava a rezar para encrencar com um religioso para discutir crenças e religião. No ensino médio, admito que me divertia ao fazer um colega meu, evangélico dedicado, a contar como Deus criou o mundo em 6 dias (e como ninguém é de ferro, descansou no sétimo), e como Noé salvou o mundo do Dilúvio. Digo que me divirto porque não entendia como alguém como ele (um cdf classe A) acreditava nisso.
Mas hoje vejo como fui tosco. Meu colega segue acreditando piamente que a Arca de Noé cruzou os mares, mas eu já não entro mais nas rodinhas que discutem crenças disposto a arranjar desentendimento. Primeiro por que aprendi que crença é algo muito pessoal que pra começo de conversa não deveria nem mesmo ser assunto em discussões. Depois, porque discutir sobre isso não leva a nada.
Se dois anos atrás eu fizesse uma lista das coisas que mais gosto de comentar, religião estaria entre uma das primeiras, mas vejo que isso se devia mais a minha curiosidade. Gosto muito de estudar as religiões, de ver em que os outros acreditam. No meu tempo livre, fui desenvolvendo a teoria de que cada um tem sua própria religião e não existem duas pessoas com a mesma religião. Foi quando percebi que estava pensando em crença, em fé, não em religião.
Religião é uma instituição manufaturada entre você e Deus. Crença é um vínculo sagrado que une você a quem você adora. Religião são leis, instituição social, meio de controle e disseminador de moral. Crença é um sentimento puro que não precisa de regras ou pregadores. Vivemos a religião fora de casa, na missa e no culto, com um grupo e um livro ou dois. Crença é uma prática entre quatro paredes, sejam paredes da casa ou da própria cabeça, com nossa voz por única testemunha.
Não gosto muito do original, mas é mais ou menos assim:
“Quando rezardes, não sejais como os hipócritas que gostam de fazer suas orações de pé e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade, eu vos digo: já receberam a sua recompensa. Quanto a ti, quando quiseres orar, entra em teu quarto mais retirado, tranca a tua porta, e dirige a tua oração ao teu Pai que está ali, no segredo. E teu Pai, que vê no segredo, te retribuirá.” – evangelho se São Mateus.

Bem, hoje me afasto da roda de conversa quando ela se torna uma roda de conversão. Até porque “aqueles que gostam de falar de suas idéias religiosas são aqueles que menos gostam de ouvir as dos outros”. Na verdade, como adoro falar, o que tento mesmo é mudar de assunto, mas se não consigo aí sim eu tiro o corpo fora.
Sou pagão. Politeísta, pagão, não sei bem qual é o termo mais próprio para se utilizar. Até hoje só encontrei uma pessoa que entendeu minha “religião”, porque essa minha crença não veio através de meus pais, fui eu que a encontrei e foi com ela que me identifiquei, nesta fé que me senti bem. Não fico remoendo meus ancestrais de fé que foram queimados nas fogueiras ou torturados até a morte, estripados, enforcados e afogados (até porque já tascaram os primeiros cristãos pros leões), mas queria que respeitassem um pouco mais minha crença. Mas aí, como vão respeitar se nem a conhecem? Muitos acreditam que paganismo é macumba. Muitos não falam nada por que não entendem. Tudo bem, eu não discuto religião, nem a minha.

Não freqüento templos, nem covens (até porque em Joinville nunca ouvi falar de um). Quando me sentia muito mal, passava pela igreja católica, ficava lá dentro curtindo o silêncio e esperava os problemas me incomodarem menos. Já freqüentei o grupo de juventude da igreja luterana do meu bairro. Nada disso mudou minha fé. Me fez apenas perceber o quanto gosto de todas as religiões e como quero que todos se entendam mesmo tendo crenças diferentes. Espero que nunca exista uma religião única, mas se houver, que essa religião seja a tolerância. Que todos acreditem no que querem acreditar e sejam respeitados e admirados por isso. Tenho orgulho de viver em um país laico que não tem uma religião oficial.

Vou fechando o assunto por aqui, apesar de querer falar de como me chateiam essas pessoas que só aceitam sua própria fé como original, salvadora e etc. Também falaria que acho um erro das religiões parar enquanto os tempos continuam mudando, e comentaria como o dogma é um câncer para a consciência e o livre pensar, mas chega. Cada um deve pensar com a própria cabeça, espero que assim seja. Comprar idéias nem sempre é um mal.
Que nossa religião seja a paz, que seu livro seja a tolerância, que seu profeta seja o respeito.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Para ninar o id

Para ninar o id
eu mesmo, não/anotei/a data

QUISERA eu ter Freud pensado:
"Meu Deus! Meu id tem um id!"
E abrindo a cabeça com um machado
diria: "id e id do meu id, IDE!
E juntos gritai do meu lado!"

"Ah, id, meu pobre id!
Minha voz tem te calado,
mas fala mais alto, com teu id,
e sede então o id do machado!
Sim, ouviste certo, bom id,
Vinde, e ide no meu achado!"

segunda-feira, 20 de julho de 2009

UM OLHAR SOBRE Amizade

Tinha preparado um texto para hoje, sobre amizade. Feliz coincidência, caso elas existam, pois descobri que hoje é Dia do Amigo. Então fiz uma alterações e acréscimos de última hora!

AMIGOS são irmãos que escolhemos, é o que volta e meia escutamos. Não acho. Acho que amigos são amigos, irmãos são irmãos. É como comparar o que você mais gosta de beber com o que você mais gosta de comer.

Amigos temos de todo tipo, desde os loucos até os conselheiros, dos bebuns aos certinhos, dos pra todas as horas aos pra momentos especiais... Mas como tudo que é demais faz mal, penso que mais vale uns pouquíssimos amigos do que um círculo social vasto como o número de “amigos” do Orkut sugere. Amigo, para mim, é uma pessoa que faz parte da sua vida e do que você é, uma pessoa que com o tempo tornou-se parte da sua existência e a deixaria incompleta se saísse.

Amigos são poucos, mas intensos... Colegas, muitos, mas substituíveis à medida que vão saindo de cena... É como se na árvore da amizade os colegas fossem as folhas que caem à medida que murcham, enquanto os amigos são os galhos: se forem cortados, a árvore está mutilada, incompleta.

Amigos vêm e ficam pra sempre, mesmo que estejam longe ou pareçam ter esquecido você... A amizade torna-se uma espécie de amor platônico que existe sem exigir uma confirmação real (mas o que é real no amor, seja qual for o tipo de amor?) ou reciprocidade.

Amigos, na mais derrotista das hipóteses, tornam o mundo um lugar mais suportável de viver. Ou então, sendo mais otimista, tornam o mundo um lugar ainda melhor de se viver.

Amigos, desejem tudo de bom para seus amigos, pois eles farão os mesmos. Curtam-se intensamente, pois tudo na vida é passageiro (menos o motorista ;P), vivam a amizade como se ela tivesse um fim programado, e confiem, amem, incomodem e amparem uns aos outros. É preciso confiar, amar e incomodar para ser feliz! Quem melhor do que nossos amigos para agüentar isso?


AMIGO ÍMÃ carrega você para todos os passeios...
AMIGO IRMÃO Muitas vezes você acha que ele é até melhor que seu próprio irmão...
AMIGO PARCEIRO Sempre pronto para o que der e vier
AMIGO "VIAGEM NA MAIONESE" Embarca junto com você em seus sonhos mais mirabolantes
AMIGO BARULHO Quando sai, deixa um silêncio incrível...
AMIGO BANQUEIRO Sempre ajuda você na$ hora$ mai$ difícei$
AMIGO POPULAR Você tem que entrar na lista de espera para falar com ele
AMIGO PROTETOR Defende você em situações difíceis
AMIGO ESOTÉRICO acredita que existe 'uma razão' para tudo
AMIGO OTIMISTA Esse tem a solução para tudo
AMIGO CONSELHEIRO Vive lhe dando conselhos, mesmo que você não peça
AMIGO ANTIGO Para ser preservado
AMIGO NOVO Para ser conquistado
AMIGO SÁBIO sabe quando falar e quando calar
AMIGO EXPERIENTE Sempre sabe como fazer as coisas
AMIGO ANUAL Você encontra uma vez por ano, e nota que o tempo não acabou com o sentimento de amizade...
AMIGO PONTO FRIO “O bonzão”
AMIGOS REDBULL Te dá Asas...
AMIGO BRAHMA É o número 1
AMIGO AVANÇO Você usa, elas avançam
AMIGO PILHA Te deixa ligadão

Feliz Dia do Amigo para você e para todos os seus amigos!

domingo, 19 de julho de 2009

Apaixonado por sonhos

Cá estou eu apaixonado por sonhos mais uma vez...
Posso estar tropeçando sem nunca terminar de cair, mas consigo achar que de vez em quando estou subindo ao invés de ir encontro ao chão. Mas quando a cara toca o chão, vejo quanto tempo perdi caindo...

Bem... dizem por aí, longe de nós aqui, que os sonhos são representações do que vimos durante o dia. Me apaixonei por sonhos, e esses sonhos não vieram do éter. Antes, vieram de alguém. Ou através de alguém. Maldita seja a sina do homem apaixonado, pois para o amor não correspondido nem a morte ou o esquecimento são conforto. Nem o mais amargo dos venenos serve de ungüento, nem a mais afiada das facas ajuda a cicatrizar.
Mas bendita seja a força do homem que não se acovarda e tenta fugir. Enfrentar é o que faço. Sempre fiz, continuarei fazendo, se tiver de fazê-lo. O que não me mata (e não vai matar) me fortalece. Mas se pudesse escolher, prefiriria ser mais amado do que forte, mais fraco mas mais correspondido...

Mulheres, cuidem bem do homem que arranjaram, pois um coração de homem é uma pedra que quando quebra nunca mais volta a ser como era. Homens, cuidem bem do coração das mulheres que arranjaram, pois são de vidro e cortam tão certo quanto se estilhaçam! E para aqueles que ainda estão procurando o vidro para quebrar ou a pedra para lascar, não tenho nem consolo nem conselho. Não há mão amiga o suficiente nem afago agradável que chegue para quem tem cacos ou pó no peito.




--- Poema: Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos ---

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo amigo é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

(Eu, 46)

sábado, 18 de julho de 2009

A busca por um assunto

Hora de guardar o primeiro post no eski!

Pensei em começar com algum texto literário mas prefiro discutir um assunto qualquer que seja leve para um começo de blog...

Começo postiço, na verdade, pois este blog é uma segunda experiência depois de outro blog que crei e mantive por pouco tempo antes de desenterrar novamente. Meu companheiro de Letras Eduardo, que por sinal tem um blog muito interessante, disse para mim esses tempos que está pensando em criar um espaço novo no seu blog atual ou então um blog novo para poder discutir assuntos diversos ou apenas publicar idéias, uma vez que seu primeiro blog tornou-se exclusivamente literário. Foi um caso idêntico ao meu, então, pois o primeiro blog que criei tem um escopo bem fechado, dedicado a vida na cidade pequena e na cidade grande.
E, quanto ao Eski de Letras, criei-o justamente para uma função maior: colocar aqui todas as idéias ou textos que eu achar bons o suficiente para mostrar pros outros.

E meu medo, manifestando-se até este presente momento, é tranformar o eski em um diário "monologório", mas até que outras vozes se juntem a minha, é assim que tem que ser.

Acabando-se o post e não decidi o assunto... Bom para um sábado chuvoso, afinal. Hoje fui a uma confraternização (ou seja: festa cheia de gente desconhecida) da SEFAZ de Joinville, a maior parte da Secretaria da Fazenda estava lá. Festejamos o fato de sermos os escolhidos pelo Estado para mexer com os impostos e administrar os cofres da cidade. Nunca imaginei que estava tão ligado a essa máquina de tributação até o momento em que ganhei um crachá com a sigla SEFAZ, ainda que eu não tenha certeza se sou mesmo da Secretaria da Fazenda.
Meu trabalho é chegar nas casas das pessoas, medir tudo e pegar informações, tudo dados que mais tarde terão efeito no bolso dos proprietários. É a lâmina fria da necessidade sendo brandida por uma justiça cega: pobres e ricos pagam impostos, a cidade precisa de recursos para existir (mas não vou comentar aqui as diferenças entre os impostos dos pobres e os impostos dos ricos).
Para terminar, fica uma passagem do Código de Hamurábi, tido como o primeiro código escrito de leis, o famoso olho por olho, dente por dente:
"Se um pobre furar o olho de um rico, terá seu olho furado. Se um rico furar o olho de um pobre, terá seu olho furado ou então pagará uma mina de prata".
Comentários? Não meus!

O primeiro

Salve!
O nome deste blog seria "Onde a harpa repousa", mas a conotação musical não bate com minha pessoa. Ao invés disso, ainda para manter o sentimento inicial, outro nome foi escolhido.

Eski é uma caixa de freixo onde os antigos nórdicos normalmente guardavam seus pertences pessoais. Há um eski na imagem título do site, assim como uma harpa. O eski está nas maõs de Iduna, a deusa viking da juventude eterna e da renovação. O eski de Iduna guardava as maçãs douradas que ela colhia dos pomares divinos, e essas maçãs permitiam que quem as comesse ficasse sempre jovem e forte. Ainda assim, Iduna dava apenas uma maçã por dia para cada Deus viking, e sem elas eles ficariam velhos e grisalhos.
Iduna era casada com Bragi, o protetor dos músicos e poetas. Ele, ao contrário da maioria dos Deuses nórdicos, não gostava da guerra e passava a maior parte de seu tempo tocando a harpa ou a lira e compondo poemas para sua esposa Iduna. Era também o protetor dos druidas.

O meu eski de letras guarda pensamentos e escritos que pretendo dar um a cada dia para a internet, para mantê-la jovem e atuante, à exemplo da Senhora Iduna. Que os trabalhos daqueles que escrevem e sonham sejam abençoados com juventude e inspiração, pois as idéias deviam ser mantidas vivas e não deveriam ser esquecidas com o desgaste do tempo...