quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Psicopatologismos



Deus nunca me cure da minha paranoia incrível,
Daquela claustrofobia de só quando tem gente,
Ou daquela minha narcolepsia que é irascível
E da minha monomania (ela me deixa contente).

Quero ficar bem velho com minha compulsão,
Saudável mais ou menos pela fiel hipocondria,
Talvez animado por um pouco de obsessão –
Ainda que raramente eu manifeste piromania...

Quem ralha e diz que sou doente da mente
Não pode ser gente boa nem meu amigo,
Porque o que tenho me deixa é contente
Já que cada doideira da mente é um abrigo.

Meu narcisismo, por exemplo, me deixa legal,
E a agorafobia me deixa quietinho em casa,
O que me deixa de boa sem nada de especial
Já que Deus me deu foi acrofobia e não asa.

Posso até ter uns fetiches complicados e inatos
Mas a tudo isso me antecede a amoralidade:
Veja nos acidentes na rua, cenas de assassinatos!
Todos olhando, cada um pouco ruim da cabeça.
                                          humildes na sanidade...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Fata Morgana" - Henry Wadsworth Longfellow

Woman! So close, yet out of reach! WHO ARE YOU?



 ---------------------------------------------
Fata Morgana, Henry Wadswroth Longfellow (1807 – 1882)

O sweet illusions of Song,
Ah doces ilusões da Canção,
  That tempt me everywhere,

     Que em todo loco me tentais,
In the lonely fields, and the throng

No prado vazio ou no tumulto
  Of the crowded thoroughfare!

das ruas cheias de gente!

I approach, and ye vanish away,

Aproximo-me, vós esvaneceis,
  I grasp you, and ye are gone;

  Alcanço-vos, e ides embora;
But ever by night an day,

Mas seja de noite ou dia,
  The melody soundeth on.

   A melodia continua.

As the weary traveller sees

Tal como o viajante cansado vê
  In desert or prairie vast,

  No deserto ou na pradaria vasta
Blue lakes, overhung with trees,

Lagos azuis cercados de árvores
  That a pleasant shadow cast; 

   Que conjuram sombras agradáveis;

Fair towns with turrets high,

(ou) Belas cidades com altas torres,
  And shining roofs of gold,

  E telhados fulgindo a ouro,
That vanish as he draws nigh,

Que somem quando ele se aproxima,
  Like mists together rolled,-- 

  Como névoas que se desfazem, --

So I wander and wander along,

Assim eu vago e vago sempre,
  And forever before me gleams

  E sempre reluz à minha frente
The shining city of song,

A brilhante cidade da canção
  In the beautiful land of dreams. 

  Na bela terra dos sonhos.

But when I would enter the gate

Mas quando eu tento passar o portão
  Of that golden atmosphere,

  Daquele reino de esplendor,
It is gone, and I wonder and wait

Ele se vai, então fico e espero
  For the vision to reappear. 

  Que tal visão reapareça.
--------------------------------------------



EM italiano, Fata Morgana é o nome de Fada Morgana, que no ciclo arturiano das novelas de cavalaria medievais é a bruxa e inimiga do Rei Arthur. Em romeno é um nome para as miragens causadas por alucinações, às quais o poema faz referência.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Minha tradução ::: "To lose thee - sweeter than to gain" (Emily Dickinson)

To lose thee – sweeter than to gain
All other hearts I knew
`Tis true the drought is destitute,
But then, I had the dew!

The Caspian has its realms of sand,
Its other realm of sea.
Without the sterile perquisite,
No Caspian could be.

::: Emily Dickinson

                                        Perder-te – mais doce que ganhar
                                        Cada outro coração que conheci.
                                        É bem certo que a secura é pobre;
                                        Não importa, o orvalho recebi.

                                        O Cáspio, tendo suas areias,
                                        Assim tem também seu mar.
                                        Para ser, sem tal paga estéril,
                                        O Cáspio não pode ficar.


   Each love I had befouled some of my songs. Can't listen to them without that little feeling that something of some girl is also in the air.
   For music' sake - it sucks. You see, I know such songs were made for love-aching... But can't help that thoughts of "shame is it's not for you I'm loveaching anymore" when I listen to those songs.
   Guess that's a player's life, baby. Press play, all the way, and hell yeah - playback time.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

::: Pensava
O chão - estava repleto de ilusão.
   A espera já tomara raízes,
Florescia aqui, na escuridão

Frutificou - sempre, cada dia.
   Acordando, via-me derrotado:
"O Agora a vitória me adia:

Mais um dia sem beleza, glória,
   Mais um dia acordado sem você."
E a espera ia virando minha história.

Meu teto - tem tão pouco alento.
   Olho-o; e olha-me enternecido,
Entre nós há tanto - tempo, e vento.




------------


::: Feints of Kiss and Embrace

Many times I thought love had come
When, in truth, love was gone.
I thought I slept under love's shading
When in fact I lingered on its fading.

Seems I'm never free from such toil,
Here and there entangled in love's foil.
I though myself with her blending,
Blind to the truth - love was ending.

Suddenly such things come to my mind,
But my hopes leave all reason behind:
How can one believe a love so true
If that love is but a lie to pass through?

But something gives me a little solace:
All those feints, of kiss and embrace,
were for a second true and corporeal
- though not lasting, just surreal.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Espetáculo de Ilusuras

   Sombrio seja o homem cuja compleição denunciar suas cores com toda nitidez, sem turva possibilidade.
   Como se um tespiano, demasiado ébrio para entrar no papel, apenas continuasse fingindo que é o real, aquilo que finge ser.
   É necessária para muitos dos sentidos a desfaçatez, sendo imprencindível para as compreensões também um espetáculo de ilusuras, um deboche a foliões: ilusões, que quando acreditadas, absolvedoras; se desfeitas, caras - troça e mofa, galhofa malfeita porque apressada, para um e muitos, ou tudo e todos.
   Pobre daquele que não se crê enredado, em meado de máscaras - não conseguirá nunca fingir, encarnar a personagem, encarar o público, entrar no papel.
   Que seja direito de quem finge a isenção de culpas e negada sempre lhe seja a oferta de justiça - quando são, exemplar inexistente; se fingindo, o faça em demasia: e todo o crédito dará conta, para que do bem, da vida, de sonhos e da morte nada se possua, para que nada se possa levar de fato, a efeito.
   Ao tespiano, pois, a lonjura. Ao ator, o esquecimento - passe, sendo notado, inescapável ao olhar. Esquecido, passado este passar. Ao artista, o além. Ao mascarado, a ilusão coroada pura e simplesmente pela paz - pelo esquecimento.
   Atuem, pois, as montanhas até virarem pós - e os Deuses, até virarem mitos - e os homens, até desavessarem-se em sonhos.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Adoro quando o martelo no meu pescoço toca seu corpo. Ele está sempre junto ao meu peito, mas quando ele pende, é como se nos abençoasse. Sua pele vira o templo no qual comungo com uma força maior que eu - que me toma, me move, me governa, me muda.
   É como se através do meu pescoço alguém nos abençoasse de modo tão sutil, um toque frio do metal nas peles quentes. Dois corpos abençoados abençoando um ao outro.
   E os espíritos, elevados.