sábado, 29 de dezembro de 2012

Graceful Sight

Grace, this feeling, is a state to the derelict being.
As we may look for familiar things on unfamiliar grounds,
So is Grace - unexpected throng that in silence sounds -
And this uniqueness renders Grace without similar thing.

There is Grace on the soaked sod, and on prosy skies.
And it might lingers on clicking fences at the winds,
Then departs from World, which thereon doubt brings.
Grace, feeling: at the dark of the eye - where it lies.

--- Ulian

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desejos, não de Victor Hugo, mas meus

http://www.eskideletras.blogspot.com.br/2011/12/victor-hugo-1802-1885.html


ENTÃO...
Desejo que tenhas braços firmes para que possas segurar quem não quer partir.
Desejo que tenhas filhos, poucos, e que neles coloques nomes elegantes, como Olívia, Maria, Alice ou Flávio.
Desejo que consigas rezar sempre que quiseres, e que, rezando, sintas conforto.
Desejo que escrevas, muito, e que seja esta tua única maneira de mentir - posto que escritores e verdade não se dão bem.
Desejo que encontres moedas e notas na rua ou esquecidas por ti, para pensares que ganhar dinheiro é melhor que ser pago.
Desejo que consigas ler quase tudo que quiseres, mas que sempre te sobre algo para ser lido depois e relido depois.
Desejo que leias poesia, nem muita, nem pouca, para não entender do que é feita a alma ou do que é feito o sonho.
Desejo que sejas pessoa prática quando a praticidade for mais necessária - para que, nos demais momentos, saibas agir loucamente, impensadamente, imprevisivelmente.
Desejo que consigas encher tua vida com o máximo de música possível, e que nos momentos que restarem reconheças o valor sem par do silëncio.
Desejo que possas caminhar sempre, e que, caminhando, deixes tuas preocupações tolas pelo caminho.
Desejo que ames sem limites, sem medo, sem razão, sem fim - e que em retorno recebas amor também.
Desejo que envelheças devagar enquanto reconheces a brevidade da vida e exerces o dom da juventude.
Desejo, por fim, que haja em ti sinceridade e honestidade quando te dirigires a ti - pois é franca a natureza, e ela há de te lembrar disso muitas vezes.
E, se isso tudo acontecer... adivinhe...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Rima Fraca VIII

Quando eu mendigava atenção, a chuva que caía era apenas a chuva que caía.
Não posso ouvir meu coração, e era para ali que a dor que eu tinha se esvaía.
Partir pode não ser a questão, já que a espera não é indiminuta (só se amplia),
Sou, nas confusões, confusão - a certeza que eu tive não era certa. Só sentia.

Aflição? Sentia.
Certeza? Podia.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Celta perdido

Na mata escura um bardo me encontrou,
Ou então fui eu que encontrei o bardo,
E a ele perguntei - para onde eu vou?
Disse ele - não por onde tem andado.

Ele se virou para ir, só se preparou,
Eu estava enraizado ali, não o bardo.
A ele perguntei - diga, onde estou?
Disse ele - onde ainda pesa o fardo.

--- Ulian ---


sábado, 22 de dezembro de 2012

In love with Virginia

Mumbling – down into the soul
Step – into the very mouth of hell
Go – deep down into the river

Walking around the town, leaden feet and soft stride, Mr. Peasant walking among the subjects, the mask of a king-like anyone. They see the jokers, they see the folks from afar, he sees the cute lass on the bakery, they see riff-raff on the square stores of the buildings and the storm stretches above, ignorant of limits, mocking the prisons down below.

It’s noon, people pretend they lunch for living and smile and pretend a little more. Life is good before noon, but better still if it’s noon still.

Alleyless neighborhoods sound like fun, yet boring they may be. Soft flesh down the streets, unsmiling familiar faces all around, thighs of delicate colour abound scarcely. Still waiting for the sincerity of the rain – but the rain itself restrains itself, uncomfortable before such a mundane and self-proclaimed dry company.

Still, rain comes. Never pouring, but gently, as if a long-awaited lover kissed softly, slowly, commonly instead of demanding and wildly. Rain comes down and it seems the streets are flood, streams of unconsciousness where reason dissolves and faces’ humidities are humbled. Down bellow, deep into the waters that flow, all are one and the same, and they never speak of different things neither do they smile or frown in different moods.

The stones on the pocket weight strangely lightly. The heavens were far below, the waters were mirrored on that blue infinity above, rendered leaden by the scowling clouds. The nimbus roars quietly and content as the deluge fills the tiny gaps of human inconsistency. The streams flow, far they go, and down go those too heavy, with hearts hard as stone, and dry as stone, looking for colder water to water it.

No fire, no warmth, no hatred, no love. Only the cold, numbing, dissolving sensation of entering by chance at water’s realm; welcomed by water and by water embraced.

One with the rain, at the cradle of the rain.

God, my spirit is aflow.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Another Leaf Down

Is the flesh ignorant of the frailty of the bone?
Maybe pain is like a comfort - there is some -
for those too deluded to focus on things clear.
Attention is a vagrant wing at wind's shear,
lunacy is its repose - doomed whom feel it done.

Enduring graces are rare; feints steadily come.
It's hard to see the mirage when one's alone,
Yet easy to fall blind if one's companies bear:
Acrowd, if laugh dissolve into a tear;
Alone, if Gods turn me into stone.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Quebramarra

Minha boca - saturada, não suturada.
Minha pele - abandonada, não abonada.
Meus olhares - inconsoláveis, não incontáveis.
Meus sonhos - pesados, não pensados.
-- Frontispício do Templo, Cologne

O cão revoltado descobre-se encoleirado. O barco, ultrajado, percebe suas amarras. A vinha, envergonhada, dá-se conta do cordame. O pássaro, sem reação, desvenda a verticalidade da gaiola. Passamos a vida sujeitando ou sendo sujeitados. Somos todos sujeitos. Alguns predicam (a forma mais simples de falar que prejudicam), mas outros são apenas isso, sujeitos.
O tolo.
O escravo.
O enganado.
O leviano.

Mas há sujeitos que precisam de um predicado - de uma forma de prejudicar.
O mentiroso.
O falso.
O traidor.
O cínico.

E colocam-se, tantas vezes, nessa gramática inócua da vida em uma voz passiva, fantasiando-se, pela metáfora desavisada, quase que nunca como sujeitos.
O tolo foi enganado.
O escravo foi passado para trás.
O enganado foi traído.
O leviano foi ignorado.

E que dizer daqueles sujeitos que descobrem seu lugar sintático nas frases da vida? Daqueles que percebem os nós gramáticos atando-os a algum lugar, o peso da semântica ancorando-os em uma cena única nesse auto complicado?

Deixam de ser sujeitos. Deixam de ser gramáticos. Tornam-se indivíduos. E, sem a gramática delimitando seus passos e seus dorsos, ou pesando em suas frontes e dobrando duas cabeças, descobrem-se livres. Senhores. Gaúchos. Senhores Reitores. Alienistas. Morenos. Ateneus. Casmurros.

Enfim, libertando-se. Nunca livres.
Sempre em libertação.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Se eu pudesse, ia longe.
Se eu pudesse, nadava para longe.
Mas as águas do corpo não levam para longe.
As águas do corpo aí estão - apenas vieram - de longe.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Música no teu Corpo

O whisky era barato, mas fez sua parte. O vinho é bebida de mulher, disse o irlandês, mas ajudou. Acabei lembrando, consegui fazer-me ouvir música que se fez no teu corpo.

Senti-me bem. Por um momento eu fui um bardo, um músico, e de um instrumento único em seu tipo, tirei notas jamais ouvidas. Nem ecoaram longe, eram quatro paredes abafadas, mas a música persistiu. Ganhou vida, como uma estátua de barro fraca que recebe um sopro, e em um lapso de tempo dos mais incertos vinga e desaparece sem sumir – ecoa no ouvido e se implanta na memória.

Afundei os dedos em teus cabelos. Era dedilhar uma harpa, e mesmo que os sons ainda não estivessem afinados, quem poderia ouvir melodia mais clara, mais limpa, mais única? Meus toques percorriam teu corpo, a orquestra a dois ganhava força, ganhava ritmo, os movimentos evoluíam. Quase não havia allegro. Presto, só no pensamento afoito. Mas apesar de ser uma Ária breve, essa música do teu corpo, foi um Largo, um movimento lento que atiçava o pensamento e as notas, superexcitando-as de modo que cada tom, cada toque parecia mais uma música inteira, que em sua perfeição já cedia lugar à próxima, que vinha no resfôlego e no suspiro.

Balançava a pele. Os lábios tremiam. O desejo fremente que inspirava a música se realizava, pois era composta a obra do compositor, ganhava som e vida alheia a ideia pura que tão fugazmente criara raízes no pensamento, e já era agraciada com a forma, com essa música que teu corpo produzia, conduzido.

Allegro. Presto. Largo. Ária. Sim, a princípio era assim a música do teu corpo, uma música clássica, pois de um espírito clássico vem a música erudita (embora ela mesma não se considere assim). Mas me pergunto se é só a nota clássica e orquestral que evoluía dos movimentos de corda do seu corpo, dos movimentos de onda, das realizações do sopro. Talvez fosse mais que música clássica, pois teu corpo dançava despido ao som daquela música ali produzida, ali criada. O que houve naquele momento que pertencia à guitarra do blues? O que consegui daquele dia da batida franca do pop? O que terei experienciado da paz da new age? E se houve também MPB, na vocalização suave que juro ter escutado? E olha, pode bem ter tido um acorde ou dois de música colonial...

Meus Deuses... Que música. E lembro também como houve rock. Amo rock. Clássico, metal, melódico. E cada nota que naquele dia seu corpo em afinamento produziu, conseguia escutar um pouco do que mais amo. Do que mais amava. E, coroando a tudo isso, eu escutava você. Seu sopro, a cadência do seu coração – o tímpano no fundo da orquestra ou a batera moendo quando os sentidos, de tão excitados, encontram a paz?

Não há como expressar você em palavras, pois as palavras mudam demais. Os juízos escritos mudam demais. Falseiam-se. Simulam verdade quando são falsos desde um começo não rabiscado. Você teria de ser as melhores palavras unidas em uma sequência, que nem lógica deveria ser. Mas talvez haja como expressar você em música, e seria com as melhores notas.

Mas o instrumento se foi. A última corda partiu-se em meu pensamento. Tudo o que resta é a música.

Que ecoa.

Meu Deus, ecoa.


Ulian, 12/12/2012

Versos - Trigal, inverno

Cada sonho que se acaba é um acidente sem sujeito.
Cada medo que se instala é uma dor já incubada.
Cada peso que se sente é uma ausência do riso.
Cada porre que tonteia é um idílio aproveitado.
Cada corrente que se quebra é um fato selado.
Cada tragédia que se instaura é um pesar que se afasta.
Cada ente que se vai é uma dúvida espelhada.
Cada sentimento que se esvai é uma hora repetida.
Cada dúvida enraizada é uma coragem emancipada.
Cada consicência liberta é um assomo incontrolado.
Cada olhar enfurecido é um abraço destrançado.
Cada sentença proferida é um percalço imaginado.
Cada batalha perdida é uma morte instituída.
Cada membro que dói é um quê de desalento.
Cada fonte que seca é um futuro abortado.
Cada paciência que termina é um atestado da derrota.
Cada tapa sentido é uma ferida dada.
Cada música calada é um sentimento partido.
Cada anúncio repartido é um alheamento desnudado.
Cada boca com fome é uma fonte de marasmo.
Cada vergonha ignorada é uma chance sincera.
Cada verbo desmedido é um ponto de psicose.
Cada estudo preterido é um pouco de franqueza.
Todo amor perdido é um órgão falecido.

Ulian, 2012

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Less than a beat

His ex-wife and his ex-lover were kissing in front of him, on the sofa.
"Hey, I'm here." yet the women didn't stop.

It is of no avail. In that fraction of a lifetime when love happens, love only exists. Lovers are oblivious to all but their love. In that moment there is nothing but their love, and they are oblivious, blissfully, blessedly oblivious to anything but their love.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Intimismos

Rosas tristes são piores que cabeças de defunto, assim espalhadas pelo chão. Não dormem – estão chorando acordadas, crescendo para apodrecer – pelo chão.

1
Dizem de solidão e fracasso – xipófagos. Um atado ao outro em elos de carne. Quando eu acordo pela manhã, se me sinto só, engano-me: está comigo a solidão, fazendo-me companhia, e conosco mais um, que me condena a essa companhia solitária.
Não fui vencido. Deus, não fui! Só se é derrotado quando há luta, e eis que nem luta houve. Houve apenas duas coisas – fracasso, e solidão.


2
Nada acaba. Tudo morre. Morrem as pessoas, as coisas, os sentimentos, as memórias, as impressões, os significados, as leituras, os pensamentos. Morte, morte, morte, morte, mortes. A todo tempo algo está morrendo, alguma vida fracassando, alguma existência falhando. Algo morrendo pela última vez. O espírito enlutado é aquele coitado que vive na verdade, incapaz de se desvencilhar da crueza de um mundo de morte, fracassado no esforço de fugir para um mundo de alheamento, desvencilhado desse sopro, dessa ideia, desse constante despertar para acabar, de morte.


3
Dizem que ideias, uma vez mortas, estão mortas para sempre. Sentimentos esquecidos, impressões perdidas, algumas deidades obscuras, textos a lápis. É a praga da sanidade, é o fardo da memória, é a tristeza da consciência: querem nos fazer lembrar de tudo, pensar sempre, e no que pensar, quando tudo morre e do que lembramos, até morrer, é que morreu aquilo que fomos, que sentimos, que pensamos. Não há tristeza nem felicidade no existir pelo existir – não há nada, e se é essencialmente o que se parece. Deixa-se de ser, pois não há “ser”, não há “eu”. Nada há.


4
Quando um sofre, sofre essencialmente só, pois é só sua a dor que sente. Dois ou mais podem beber da mesma dor, diminuir no mesmo ocaso, mas a dor é um privilégio da individualidade. Milhões passam fome, e o desempregado não para de chorar. O homem enviuvou-se, e a menina sem o cinema não deixa de estar triste. Há dores e dores, há pessoas e pessoas, há peitos e peitos. Cada chave abre um trinco por vez, cada dor retorce um mediastino diferente, cada perda lastima um choro sem par.


5
Pode haver amor de um? Paz de um lado só? Amizade de um único representante? Ou há sentimentos e impressões que só existem em conjunto?
Pergunto-me: para que?
Erro do sujeito? Ilusão do iludido? Cegueira do indivíduo?
Quão rápido damo-nos conta da ilusão, vemo-la real; e tão devagar é o fim, a morte, a partida. Zarpa o barco sem demora, célere sob o vento auspicioso e a maré alta, tantos crendo na ilusão do desembarque, que só existe em sonhos, e na chegada vindoura, que na partida e na viagem não existe. E como é devagar o naufrágio, lento o soçobrar, difícil baixar tão dentro do mar – e a razão, iludida, nos faz crer quando dizem ser rápido, ou pouco.


6
Há desalentos, mas para alguns há alento. Há dores, mas para algumas há cura. Há sonhos, mas eles não têm nada. A realidade em nada condiz com um sonho – o sonho é integrante da realidade – se é sonhado, é real – e não a antítese do que os sentidos do corpo podem sugerir.
Acontece, no entanto, que os sonhos são mais bem sonhados sem expectativas. Muito rápido a esperança passa de bálsamo a veneno, de armadura a ilusão; de alento há desalento.


7
Pode a morte ser um despertar se a vida é um sono do espírito? O homem crê, sonha, espera, se ilude, suscita. E isso tudo normalmente ele faz só. O homem ama, chora, ri, caminha e morre. E isso, vez ou outra, ele pode fazer acompanhado.