segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Soneto "Silêncio", de Edgar Allan Poe

Silêncio

Há qualidades tais, de natureza incorporada,
Que vivem duplamente e de modo tal
Que dão gênese a uma entidade geminada
De luz e de matéria, sólido e umbral.

Há silêncio bilateral – o mar e o litoral,
O corpo e a alma. Um de quieta morada,
Relvada, intocada, de solenidade divinal,
Humana memória e lacrimosa lembrada.

Este não assusta: seu nome é Oblívio.
É o silêncio encarnado: não apavora.
Não tem em si poder qualquer do mal.

Mas se uma sina fatal (em má hora!)
Trazer-te  à sua sombra (elfo fantasmal
Que no ermo intocado sozinho se demora),
Entrega em rezas a Deus a tua alma.

(Traduzido de Edgar A. Poe)