quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Espetáculo de Ilusuras

   Sombrio seja o homem cuja compleição denunciar suas cores com toda nitidez, sem turva possibilidade.
   Como se um tespiano, demasiado ébrio para entrar no papel, apenas continuasse fingindo que é o real, aquilo que finge ser.
   É necessária para muitos dos sentidos a desfaçatez, sendo imprencindível para as compreensões também um espetáculo de ilusuras, um deboche a foliões: ilusões, que quando acreditadas, absolvedoras; se desfeitas, caras - troça e mofa, galhofa malfeita porque apressada, para um e muitos, ou tudo e todos.
   Pobre daquele que não se crê enredado, em meado de máscaras - não conseguirá nunca fingir, encarnar a personagem, encarar o público, entrar no papel.
   Que seja direito de quem finge a isenção de culpas e negada sempre lhe seja a oferta de justiça - quando são, exemplar inexistente; se fingindo, o faça em demasia: e todo o crédito dará conta, para que do bem, da vida, de sonhos e da morte nada se possua, para que nada se possa levar de fato, a efeito.
   Ao tespiano, pois, a lonjura. Ao ator, o esquecimento - passe, sendo notado, inescapável ao olhar. Esquecido, passado este passar. Ao artista, o além. Ao mascarado, a ilusão coroada pura e simplesmente pela paz - pelo esquecimento.
   Atuem, pois, as montanhas até virarem pós - e os Deuses, até virarem mitos - e os homens, até desavessarem-se em sonhos.

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