segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

::: A Cabeça

Tênue Inspiração a partir da encenação de "Mythistorema 3", de Giorgos Seferiades, recitada na "Alegoria" das Olimpíadas de 2004, em Atenas.


A Cabeça


É involuntário. Quando acordo, olho para minha escrivaninha. Ela está lá, de olhos fechados. Ainda é de mármore, ainda é fria.

É uma cabeça, não tem expressão. Às vezes, não tem olhos nem lábios, é lisa e tem uma única protuberância (o nariz). Outras vezes é completa, é inteira, parece a cabeça de uma Deusa grega que dorme após matar as filhas de Niobe, e não sei de qual das duas formas tenho mais medo, da clássica ou da abstrata.

Eu tenho que levantar e carregá-la pelo resto do dia. Por onde quer que eu vá – trabalho, casa, rua, bar – ela está comigo. Eu carrego e a sinto pesada. Eu a levo e a sinto gelada. É um peso que carrego, sim, uma cabeça que não posso largar, uma cabeça que faz minha cabeça doer.

Quando vou dormir, não a vejo mais. Ela não está em minhas mãos. Ela sumiu. Juro pela última vez que não vou olhar para nada quando acordar.

Mas eu acordo.

Mas eu olho.

Ela está lá.

Um comentário:

  1. adorei isso. deveras.

    PS: que fófis a propagando do my truth ali no lado. já sei, pesou a consciência... já que EU sou o grande leitor do blog dela. HAHAHAA. :p

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