sexta-feira, 4 de abril de 2014

Passagens

Passei algum tempo pensando na Rainha das Estrelas, e por perto sempre esteve a Dama da Terra. E nesse enleio eu também fui elemento consolidado – uma coisa de vento ou memória pairando entre as duas, e entre elas, e talvez também tenha sido um ermo de submundo nos subterrâneos da terra, clamando por vida e cor, ou cujas brechas observavam e queriam a luz fria e branca das estrelas ao longe.

Uma eu vejo nas correntes do céu, entre o cerúleo da lonjura e o branco da distância, e está posta além do alcance mas castiga os olhos.
Outra está posta entre flores e caules, nua, e a casca das árvores é sua pele tão macia por onde o orvalho não escorre - prefere se agarrar e secar a ter de deixar.

Uma está com a vista voltada para a escuridão dos céus além, cada vez mais distantes e vazios. Pensa com a presteza da estrela, e ela é esperança cuja luz ainda vaga depois de morto o coração que irradia.
Outra está sob aves canoras e entre as frutas que amadurecem, e ao seu redor as plantas se enroscam como se fosse normal haver vida. Ela apenas escuta o pólen e sente o gosto da canção, o perfume dos meus toques e observa, na paz de seus olhos fechados, a tranquilidade.

E minhas mãos, estranhas porque sujas de tinta, ora mancham folhas verdes como se quisessem escrever direto na natureza ao invés de se contentarem em descrevê-la, citando montanhas e paz.
E minhas mãos, estranhas porque sujas de tinta e sal, ora escurecem-me a vista quando limpo os olhos, e por um instante tudo o que vejo é preto.

Uma árvore coroada de estrelas. Uma colina orvalhada encimada pelo espelho do firmamento, onde uma nuvem de prata esteja cercada por estrelas. A união de céu e terra é um tanto fugaz, e em nada contentadora.

Estarei sempre eu, um horizonte, cortando ao meio algo que une a terra boa com o ar superior.

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