sábado, 1 de março de 2014

Metades Vivas

Enviuvei mais de uma vez e continuei meio vivo. Nunca, contudo, conheci a morte por vias de fato. Ignoro-lhe as feições: Passe ela por mim na rua, não a reconhecerei.

Sou viúvo, então, de gente viva. Meu coração morreu aos poucos com meus amores partidos. O resto vive com minhas amadas. Eu morri por nós, de enforcamento.

E sempre morri às metades: Acabou tal amor, metade de mim morreu. A metade que sobra que ame de novo.

Sou, assim, comboio de corda falecida que perdeu muitas e muitas metades. Para o diabo com a matemática da lógica e das quantidades: Sou o luto dos velórios de minhas várias metades que amargaram mortes tristes e arautaram viuvez por gente que segue viva.

Mas o sentimento morreu - diz para mim vez ou outra a tia velha que prepara e serve o cafezinho nos velórios. E sentimento vive?

Nenhum comentário:

Postar um comentário