quarta-feira, 19 de março de 2014

De Mil

Estou cansado.
Por favor não me perguntem o porquê de eu estar cansado.
Estou apenas isso. Cansado.
Não pedi que me perguntassem o porquê de eu estar cansado.
Apenas isso, estou cansado.
Cansado.
Como estou cansado de não dizer que estou cansado, foi isso o que eu disse.
Que estou cansado.
Só isso. Não me perguntem, eu peço, o motivo de eu estar cansado.
Nem eu sei. Estou cansado demais para saber.
E mesmo se eu soubesse, estaria cansado demais para entender.
E mesmo que entendesse, cansado como estou não falaria.
E mesmo que eu falasse, cansado assim não escutaria.
E ao não escutar, sendo questionado, eu ainda mais me cansaria.
Estou cansado.
Ando tão cansado, na verdade, que nem consigo descansar.
Faz anos que não descanso.
Anos em que venho me cansando. Um cansaço latente, impertinente, imponente.
Cansativo.
Eu poderia fazer prosa, ou então algum poema rimado e divido. Mas não dá.
Simplesmente não dá. Por quê?
Estou cansado. Gente cansada não consegue se animar a contar sílabas poéticas.
Gente cansada tem dificuldade em se acertar com a gramática.
Quem sente cansaço não concatena bem na sintática e nem tripudia pela ortografia.
É, no máximo do seu mínimo, capaz de rebuscar, porque a dificuldade não exige que se canse tanto. Embora viver canse.
Cansado.
Não cancionado.
Nem casado.
Nem caçado.
Só cansado.
Cansado que mais me canso.
Cansado que canso.
Apenas isso.
Só isso.
Cansado.

Cansa.

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