segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Divagando

Agradeço a oportunidade de viver em um lugar sem muito concreto.
Hoje vi um par de andorinhas voando sabe a umidade para onde. Gosto de pensar que eram um casal.
Mas daí, acho errado querer invejar a união dele e dela. Que voem juntos para onde quiserem.
Dizem que as araras escolhem um parceiro para a vida inteira, e que se esse parceiro morre, a arara que vive jamais arranja outro, e há quem diga que algumas dessas aves selam-se em seus ninhos para morrer de fome ou jogam-se do alto das árvores. Não quero pesquisar para saber se é verdade ou não. A lenda já me basta.

Mas não quero falar de morte ou tragédia, para elas há outros momentos. Queria apenas falar de duas aves que voavam juntas, e da emoção que talvez sem saber despertaram em mim, e mesmo assim ouso dizer que não consigo negar-lhes parte na inveja.
Pois as invejo.
Consolo, há pouco. Está no que é pouco palpável e está mais longe de ser real do que a esperança.



Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais o que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
--- Camões (Sonetos para amar o amor)

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