terça-feira, 26 de julho de 2011

Vida longa, arte breve

A vida é uma criança. A vida é uma débil tentativa de entender o que há de ininteligível. É o abraço mais forte que um aleijado pode dar, é a tez mais pura que um leproso ostenta, é a lágrima de adoração silenciosa que molha os olhos do admirador cego. Viver é criar impressões, é sonhar dentro de sonhos, é delirar enquanto se delira, é perceber-se divagando em tão grande divagação.

É furtar-se dos momentos de dor para melhor lembrá-los como não os são - como nunca o foram. É viver de vez os momentos de alegria para não ter do que recordar logo além. É desejar mais quando não se sabe o que quer, é não querer mais nada quando se odeia tudo a que se agarra.

A vida é uma criança. É nunca querer ficar velha, é nunca querer amamentar, é nunca querer cuidar, é nunca querer sofrer, é nunca querer brincar, é nunca querer poder, é nunca querer crescer.
O que faz uma criança, pois?

Sonha.

Sonha sonhos dentro de outros sonhos.

A vida é uma criança. Uma criança arteira. Uma criança arteira faz arte.
Não ouse a mãe de vento dizer que crianças brincam. Elas fazem arte.
Não ouse um pai de não sei quê falar que uma criança não quer. Elas fazem arte.
Não ouse uma velha seca de prantos balbuciar que uma criança quer. Elas fazem arte.
Não ouse um demente qualquer gaguejar que uma criança nada é. Elas fazem arte. Quem faz arte, é mais do que é permitido ser.

A vida é uma criança. É não querer acordar quando já se está acordado. É querer morrer para saber como é bom viver. É gostar da loucura por não falar com a estranha da razão.

Ah, a vida... esses sonhos dentro de outro sonhos. Cobrir-me de luto ou cobrir-me de glória, nada querer ou quere demais... Hoje, sonho não sei quê, esperando amanhã (agora, que importa?) sonhar não sei onde sabe-se lá o quê. Mas a vida é uma criança.
Só sonho, nos meus sonhos, em fazer mais arte.

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