sexta-feira, 11 de julho de 2014

Os Vidrilhos da Moça que Corre

         Nem incêndio sobre todo o ouro que habita as colinas cavadas de Dur-Ulrrúrias poderia comparar-se ao fulgor do rosto dela quando a ilumina a fronte o sol da manhã – um amante em chamas que se posta diante dela debruçado no firmamento a vê-la passar, a contar, cantarolar, trançando miçangas em couro sob a luz de alvorada.

         Nem todas as estrelas que deslizam no golfo negro entre as nebulosas do céu poderiam fazer-lhe ao charme particular um par quando ela dança e bate o pé descalço sobre a grama viva – um tapete de sedas e cerdas que se agrada ao espalhar-se sob ela para que ela o possa pisar, e para que sobre o dorso de verdes o corpo dela possa rolar, ou simplesmente sobe em verdes nas pedras para vê-la passar, a contar, cantarolar, trançando miçangas em couro cercada de grama.

         Nem todas as aves que habitam cantando a Mata do Corvo poderiam ganhar, em beleza, na música que ela cante ao desdobrar os lençóis da casa da mãe ou ao a lavar panos brancos na beira do rio – uma fita longa de prata do céu que serpenteia como um gato folgado aos mimos que a voz dela causa, o afago audível da garganta dela que se ouve ao vê-la passar, a contar, cantarolar, trançando miçangas em couro à beira do rio.

         E nem todo o ouro se ofertado a reis, nem as estrelas se ofertadas aos sábios, nem as aves da Mata do Corvo se ofertadas às damas podem comprar a graça do sorriso dela, da alma dela, do canto dela, do cheiro dela, da corrida dela, do quadril dela, da dança dela, do pé dela, das mãos dela; que dedilham, que tocam, que contam, que balançam em dança conforme ela passa, conforme ela conta, cantarola, trança miçangas tão longe de mim.

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