domingo, 13 de julho de 2014

Impressão Dissolvida

Contemplo com horror certa e estranha nova graça de mandar. Olho com dúvida e temor minhas mãos vazias - as lágrimas que cá despencam não fazem ficâncias e vão-se descerimoniais mãos abaixo, salgando a minha pele quente e encharcando-me com o que vaza de meus olhos ao não mais morar em mim. Corre uma memória líquida, diluída, salgada e dúctil na essência, furiosa e intempestiva no querer cair.

E meus olhos - enchentes em vazão, represas rudes e ruinosas, mãos
entreabertas que deixam escapar as águas - estatelam-se no chão como semente de erva daninha, de mato ruim, de planta que não se quer.

E meus dedos - lascas de ossos cobertas com carne que vacila e teme ou não crê - procuram por um fogo na noite ou por velas acesas que se possa apagar.

E minha boca - um ninho aberto de aves já idas da estação - treme sozinha no espasmo medido que chamo de rosto.

Vão, minhas lágrimas. Meus olhos, órfãos de sal, minhas faces, viúvas com dó, os meus pelos, bichos sem dono, e meu queixo, o penhasco de onde pulam as lágrimas: Minhas memórias suicidas, não-remidas, diluídas, dissolvidas.


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