terça-feira, 26 de julho de 2011

O medo do amaranto

Amaranto. A flor eterna. A centelha de vida trancada na pele verde, que nas lendas nunca morre porque ao envelhecer, torna-se jovem.

Amaranto, a lenda enraizada e fotossintetizante de uma criatura que, afinal, é imortal.

Ouso, pois, colocar aqui os medos indiscorridos do Amaranto em um breve momento de comunhão que tive com um exemplar dessa floração capaz de ignorar o tempo...

::: O MEDO DO AMARANTO
O que algo que é eterno tem a temer?
Arrancam-te, tornas a enraizar-te e vives.
Assopram-te as folhas, todas, mas tornam a te enlear.
Queimam-te, mas tuas cinzas vem a ornarem-te a sépala.
Despetalam-te as pétalas, mas o mal-me-quer, bem-me-quer jamais tem fim.
Que temes, então, Amaranto?

O Amaranto:
Temo, odeio (correria se pudesse), morro de medo daquilo que sou.
Sou uma imagem.
Eu sou uma imagem.
Imagine.
Imagem.
Uma imagem.
Umagem.
Imagem. Imagem. Imagine. Imagem.

Eu:
Uma imagem, sim, mas do que é eterno. Do que dura para sempre.

O Amaranto me interrompe, e é para sempre:
Morro mil vezes ou renasço mil vezes? O que é eterno nasceu um dia? Uma imagem! Sou uma imagem. Serei só uma imagem? Ai, que imagem devo ser. Tenho medo do que sou, pois o que sou é uma imagem que não sabe se é a imagem que teme a imagem que teme ser. Tenho medo. Morro de medo. Morro de medo. Renasço de medo. Renasço com medo. Mata-me, morro-me, nasço-me, renasço-me, temo-me. Imagem-me. Uma imagem.

Eu:
Entendo. As coisas são puras somente uma vez?

O Amaranto, chorando uma pétala de sua cor:
Não sei. A imagem de desfaz. A imagem morre. A imagem se refaz. Queria morrer, ou então poder viver. Ser. Não ser imagem.

Nós:
Sou imagem?

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