As palavras me traem. As nossas palavras nos traem.
Queria que minhas palavras me traissem mais.
Queria que as minhas palavras fossem um pouco mais expressivas.
Minhas palavras me traem.
O tempo riscou um sulco entre nós dois.
Um sulco, um risco, uma linha. Uma linha tão longa...
Jamais um círculo.
Não há círculo.
Não há círculo algum. Isolando ninguém.
Pule a linha. Eu seguro o que vier daí.
Por que não pulo? Pule e deixe-se enganar por mim.
Dê-me a chance de mentir tão bem mentido,
de poder usar da língua-de-prata, essa meu
dom divino de ficar invisível.
Mas se perceber que a mentira é insuficiente, não
objeto de maneira alguma que queira levar embora
a verdade. Não a quero. Odeio-a. Afasta-me dela.
Faz-me crer que o sulco foi riscado bem errado.
Que o sulco é errado entre nós dois, entre luz e sombra,
mas certo entre nós e a verdade.
O tempo riscou um sulco entre nós dois.
Que ele risque a nós dois,
mas jamais entre a estrela e o mar de escuridão.
Sem círculos. Sulcos, sem círculos.
Devora-me, ferrugem, e estala-me quando decidires que me quebras.
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