segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
Graceful Sight
Grace, this feeling, is a state to the derelict being.
As we may look for familiar things on unfamiliar grounds,
So is Grace - unexpected throng that in silence sounds -
And this uniqueness renders Grace without similar thing.
There is Grace on the soaked sod, and on prosy skies.
And it might lingers on clicking fences at the winds,
Then departs from World, which thereon doubt brings.
Grace, feeling: at the dark of the eye - where it lies.
--- Ulian
As we may look for familiar things on unfamiliar grounds,
So is Grace - unexpected throng that in silence sounds -
And this uniqueness renders Grace without similar thing.
There is Grace on the soaked sod, and on prosy skies.
And it might lingers on clicking fences at the winds,
Then departs from World, which thereon doubt brings.
Grace, feeling: at the dark of the eye - where it lies.
--- Ulian
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Desejos, não de Victor Hugo, mas meus
http://www.eskideletras.blogspot.com.br/2011/12/victor-hugo-1802-1885.html
ENTÃO...
Desejo que tenhas braços firmes para que possas segurar quem não quer partir.
Desejo que tenhas filhos, poucos, e que neles coloques nomes elegantes, como Olívia, Maria, Alice ou Flávio.
Desejo que consigas rezar sempre que quiseres, e que, rezando, sintas conforto.
Desejo que escrevas, muito, e que seja esta tua única maneira de mentir - posto que escritores e verdade não se dão bem.
Desejo que encontres moedas e notas na rua ou esquecidas por ti, para pensares que ganhar dinheiro é melhor que ser pago.
Desejo que consigas ler quase tudo que quiseres, mas que sempre te sobre algo para ser lido depois e relido depois.
Desejo que leias poesia, nem muita, nem pouca, para não entender do que é feita a alma ou do que é feito o sonho.
Desejo que sejas pessoa prática quando a praticidade for mais necessária - para que, nos demais momentos, saibas agir loucamente, impensadamente, imprevisivelmente.
Desejo que consigas encher tua vida com o máximo de música possível, e que nos momentos que restarem reconheças o valor sem par do silëncio.
Desejo que possas caminhar sempre, e que, caminhando, deixes tuas preocupações tolas pelo caminho.
Desejo que ames sem limites, sem medo, sem razão, sem fim - e que em retorno recebas amor também.
Desejo que envelheças devagar enquanto reconheces a brevidade da vida e exerces o dom da juventude.
Desejo, por fim, que haja em ti sinceridade e honestidade quando te dirigires a ti - pois é franca a natureza, e ela há de te lembrar disso muitas vezes.
E, se isso tudo acontecer... adivinhe...
ENTÃO...
Desejo que tenhas braços firmes para que possas segurar quem não quer partir.
Desejo que tenhas filhos, poucos, e que neles coloques nomes elegantes, como Olívia, Maria, Alice ou Flávio.
Desejo que consigas rezar sempre que quiseres, e que, rezando, sintas conforto.
Desejo que escrevas, muito, e que seja esta tua única maneira de mentir - posto que escritores e verdade não se dão bem.
Desejo que encontres moedas e notas na rua ou esquecidas por ti, para pensares que ganhar dinheiro é melhor que ser pago.
Desejo que consigas ler quase tudo que quiseres, mas que sempre te sobre algo para ser lido depois e relido depois.
Desejo que leias poesia, nem muita, nem pouca, para não entender do que é feita a alma ou do que é feito o sonho.
Desejo que sejas pessoa prática quando a praticidade for mais necessária - para que, nos demais momentos, saibas agir loucamente, impensadamente, imprevisivelmente.
Desejo que consigas encher tua vida com o máximo de música possível, e que nos momentos que restarem reconheças o valor sem par do silëncio.
Desejo que possas caminhar sempre, e que, caminhando, deixes tuas preocupações tolas pelo caminho.
Desejo que ames sem limites, sem medo, sem razão, sem fim - e que em retorno recebas amor também.
Desejo que envelheças devagar enquanto reconheces a brevidade da vida e exerces o dom da juventude.
Desejo, por fim, que haja em ti sinceridade e honestidade quando te dirigires a ti - pois é franca a natureza, e ela há de te lembrar disso muitas vezes.
E, se isso tudo acontecer... adivinhe...
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Rima Fraca VIII
Quando eu mendigava atenção, a chuva que caía era apenas a chuva que caía.
Não posso ouvir meu coração, e era para ali que a dor que eu tinha se esvaía.
Partir pode não ser a questão, já que a espera não é indiminuta (só se amplia),
Sou, nas confusões, confusão - a certeza que eu tive não era certa. Só sentia.
Aflição? Sentia.
Certeza? Podia.
Não posso ouvir meu coração, e era para ali que a dor que eu tinha se esvaía.
Partir pode não ser a questão, já que a espera não é indiminuta (só se amplia),
Sou, nas confusões, confusão - a certeza que eu tive não era certa. Só sentia.
Aflição? Sentia.
Certeza? Podia.
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
Celta perdido
Na mata escura um bardo me encontrou,
Ou então fui eu que encontrei o bardo,
E a ele perguntei - para onde eu vou?
Disse ele - não por onde tem andado.
Ele se virou para ir, só se preparou,
Eu estava enraizado ali, não o bardo.
A ele perguntei - diga, onde estou?
Disse ele - onde ainda pesa o fardo.
--- Ulian ---
Ou então fui eu que encontrei o bardo,
E a ele perguntei - para onde eu vou?
Disse ele - não por onde tem andado.
Ele se virou para ir, só se preparou,
Eu estava enraizado ali, não o bardo.
A ele perguntei - diga, onde estou?
Disse ele - onde ainda pesa o fardo.
--- Ulian ---
sábado, 22 de dezembro de 2012
In love with Virginia
Mumbling – down
into the soul
Step – into the very mouth of hell
Go – deep down into the river
Step – into the very mouth of hell
Go – deep down into the river
Walking around the
town, leaden feet and soft stride, Mr. Peasant walking among the
subjects, the mask of a king-like anyone. They see the jokers, they
see the folks from afar, he sees the cute lass on the bakery, they
see riff-raff on the square stores of the buildings and the storm
stretches above, ignorant of limits, mocking the prisons down below.
It’s noon, people
pretend they lunch for living and smile and pretend a little more.
Life is good before noon, but better still if it’s noon still.
Alleyless
neighborhoods sound like fun, yet boring they may be. Soft flesh down
the streets, unsmiling familiar faces all around, thighs of delicate
colour abound scarcely. Still waiting for the sincerity of the rain –
but the rain itself restrains itself, uncomfortable before such a
mundane and self-proclaimed dry company.
Still, rain comes.
Never pouring, but gently, as if a long-awaited lover kissed softly,
slowly, commonly instead of demanding and wildly. Rain comes down and
it seems the streets are flood, streams of unconsciousness where
reason dissolves and faces’ humidities are humbled. Down bellow,
deep into the waters that flow, all are one and the same, and they
never speak of different things neither do they smile or frown in
different moods.
The stones on the
pocket weight strangely lightly. The heavens were far below, the
waters were mirrored on that blue infinity above, rendered leaden by
the scowling clouds. The nimbus roars quietly and content as the
deluge fills the tiny gaps of human inconsistency. The streams flow,
far they go, and down go those too heavy, with hearts hard as stone,
and dry as stone, looking for colder water to water it.
No fire, no warmth,
no hatred, no love. Only the cold, numbing, dissolving sensation of
entering by chance at water’s realm; welcomed by water and by water
embraced.
One with the rain,
at the cradle of the rain.
God, my spirit is
aflow.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Another Leaf Down
Is the flesh ignorant of the frailty of the bone?
Maybe pain is like a comfort - there is some -
for those too deluded to focus on things clear.
Attention is a vagrant wing at wind's shear,
lunacy is its repose - doomed whom feel it done.
Enduring graces are rare; feints steadily come.
It's hard to see the mirage when one's alone,
Yet easy to fall blind if one's companies bear:
Acrowd, if laugh dissolve into a tear;
Alone, if Gods turn me into stone.
Maybe pain is like a comfort - there is some -
for those too deluded to focus on things clear.
Attention is a vagrant wing at wind's shear,
lunacy is its repose - doomed whom feel it done.
Enduring graces are rare; feints steadily come.
It's hard to see the mirage when one's alone,
Yet easy to fall blind if one's companies bear:
Acrowd, if laugh dissolve into a tear;
Alone, if Gods turn me into stone.
sábado, 15 de dezembro de 2012
Quebramarra
Minha boca - saturada, não suturada.
Minha pele - abandonada, não abonada.
Meus olhares - inconsoláveis, não incontáveis.
Meus sonhos - pesados, não pensados.
-- Frontispício do Templo, Cologne
O cão revoltado descobre-se encoleirado. O barco, ultrajado, percebe suas amarras. A vinha, envergonhada, dá-se conta do cordame. O pássaro, sem reação, desvenda a verticalidade da gaiola. Passamos a vida sujeitando ou sendo sujeitados. Somos todos sujeitos. Alguns predicam (a forma mais simples de falar que prejudicam), mas outros são apenas isso, sujeitos.
O tolo.
O escravo.
O enganado.
O leviano.
Mas há sujeitos que precisam de um predicado - de uma forma de prejudicar.
O mentiroso.
O falso.
O traidor.
O cínico.
E colocam-se, tantas vezes, nessa gramática inócua da vida em uma voz passiva, fantasiando-se, pela metáfora desavisada, quase que nunca como sujeitos.
O tolo foi enganado.
O escravo foi passado para trás.
O enganado foi traído.
O leviano foi ignorado.
E que dizer daqueles sujeitos que descobrem seu lugar sintático nas frases da vida? Daqueles que percebem os nós gramáticos atando-os a algum lugar, o peso da semântica ancorando-os em uma cena única nesse auto complicado?
Deixam de ser sujeitos. Deixam de ser gramáticos. Tornam-se indivíduos. E, sem a gramática delimitando seus passos e seus dorsos, ou pesando em suas frontes e dobrando duas cabeças, descobrem-se livres. Senhores. Gaúchos. Senhores Reitores. Alienistas. Morenos. Ateneus. Casmurros.
Enfim, libertando-se. Nunca livres.
Sempre em libertação.
Minha pele - abandonada, não abonada.
Meus olhares - inconsoláveis, não incontáveis.
Meus sonhos - pesados, não pensados.
-- Frontispício do Templo, Cologne
O cão revoltado descobre-se encoleirado. O barco, ultrajado, percebe suas amarras. A vinha, envergonhada, dá-se conta do cordame. O pássaro, sem reação, desvenda a verticalidade da gaiola. Passamos a vida sujeitando ou sendo sujeitados. Somos todos sujeitos. Alguns predicam (a forma mais simples de falar que prejudicam), mas outros são apenas isso, sujeitos.
O tolo.
O escravo.
O enganado.
O leviano.
Mas há sujeitos que precisam de um predicado - de uma forma de prejudicar.
O mentiroso.
O falso.
O traidor.
O cínico.
E colocam-se, tantas vezes, nessa gramática inócua da vida em uma voz passiva, fantasiando-se, pela metáfora desavisada, quase que nunca como sujeitos.
O tolo foi enganado.
O escravo foi passado para trás.
O enganado foi traído.
O leviano foi ignorado.
E que dizer daqueles sujeitos que descobrem seu lugar sintático nas frases da vida? Daqueles que percebem os nós gramáticos atando-os a algum lugar, o peso da semântica ancorando-os em uma cena única nesse auto complicado?
Deixam de ser sujeitos. Deixam de ser gramáticos. Tornam-se indivíduos. E, sem a gramática delimitando seus passos e seus dorsos, ou pesando em suas frontes e dobrando duas cabeças, descobrem-se livres. Senhores. Gaúchos. Senhores Reitores. Alienistas. Morenos. Ateneus. Casmurros.
Enfim, libertando-se. Nunca livres.
Sempre em libertação.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Música no teu Corpo
O whisky era barato, mas fez sua parte.
O vinho é bebida de mulher, disse o irlandês, mas ajudou. Acabei
lembrando, consegui fazer-me ouvir música que se fez no teu corpo.
Senti-me bem. Por um momento eu fui um
bardo, um músico, e de um instrumento único em seu tipo, tirei
notas jamais ouvidas. Nem ecoaram longe, eram quatro paredes
abafadas, mas a música persistiu. Ganhou vida, como uma estátua de
barro fraca que recebe um sopro, e em um lapso de tempo dos mais
incertos vinga e desaparece sem sumir – ecoa no ouvido e se
implanta na memória.
Afundei os dedos em teus cabelos. Era
dedilhar uma harpa, e mesmo que os sons ainda não estivessem
afinados, quem poderia ouvir melodia mais clara, mais limpa, mais
única? Meus toques percorriam teu corpo, a orquestra a dois ganhava
força, ganhava ritmo, os movimentos evoluíam. Quase não havia
allegro. Presto, só no pensamento afoito. Mas apesar
de ser uma Ária breve, essa música do teu corpo, foi um Largo,
um movimento lento que atiçava o pensamento e as notas,
superexcitando-as de modo que cada tom, cada toque parecia mais uma
música inteira, que em sua perfeição já cedia lugar à próxima,
que vinha no resfôlego e no suspiro.
Balançava a pele. Os lábios tremiam.
O desejo fremente que inspirava a música se realizava, pois era
composta a obra do compositor, ganhava som e vida alheia a ideia pura
que tão fugazmente criara raízes no pensamento, e já era agraciada
com a forma, com essa música que teu corpo produzia, conduzido.
Allegro. Presto. Largo.
Ária. Sim, a princípio era assim a música do teu corpo, uma
música clássica, pois de um espírito clássico vem a música
erudita (embora ela mesma não se considere assim). Mas me pergunto
se é só a nota clássica e orquestral que evoluía dos movimentos
de corda do seu corpo, dos movimentos de onda, das realizações do
sopro. Talvez fosse mais que música clássica, pois teu corpo
dançava despido ao som daquela música ali produzida, ali criada. O
que houve naquele momento que pertencia à guitarra do blues?
O que consegui daquele dia da batida franca do pop? O que
terei experienciado da paz da new age? E se houve também MPB,
na vocalização suave que juro ter escutado? E olha, pode bem ter
tido um acorde ou dois de música colonial...
Meus Deuses... Que música. E lembro
também como houve rock. Amo rock. Clássico, metal,
melódico. E cada nota que naquele dia seu corpo em afinamento
produziu, conseguia escutar um pouco do que mais amo. Do que mais
amava. E, coroando a tudo isso, eu escutava você. Seu sopro, a
cadência do seu coração – o tímpano no fundo da orquestra ou a
batera moendo quando os sentidos, de tão excitados, encontram a paz?
Não há como expressar você em
palavras, pois as palavras mudam demais. Os juízos escritos mudam
demais. Falseiam-se. Simulam verdade quando são falsos desde um
começo não rabiscado. Você teria de ser as melhores palavras
unidas em uma sequência, que nem lógica deveria ser. Mas talvez
haja como expressar você em música, e seria com as melhores notas.
Mas o instrumento se foi. A última
corda partiu-se em meu pensamento. Tudo o que resta é a música.
Que ecoa.
Meu Deus, ecoa.
Ulian, 12/12/2012
Versos - Trigal, inverno
Cada sonho que se acaba é um acidente sem sujeito.
Cada medo que se instala é uma dor já incubada.
Cada peso que se sente é uma ausência do riso.
Cada porre que tonteia é um idílio aproveitado.
Cada corrente que se quebra é um fato selado.
Cada tragédia que se instaura é um pesar que se afasta.
Cada ente que se vai é uma dúvida espelhada.
Cada sentimento que se esvai é uma hora repetida.
Cada dúvida enraizada é uma coragem emancipada.
Cada consicência liberta é um assomo incontrolado.
Cada olhar enfurecido é um abraço destrançado.
Cada sentença proferida é um percalço imaginado.
Cada batalha perdida é uma morte instituída.
Cada membro que dói é um quê de desalento.
Cada fonte que seca é um futuro abortado.
Cada paciência que termina é um atestado da derrota.
Cada tapa sentido é uma ferida dada.
Cada música calada é um sentimento partido.
Cada anúncio repartido é um alheamento desnudado.
Cada boca com fome é uma fonte de marasmo.
Cada vergonha ignorada é uma chance sincera.
Cada verbo desmedido é um ponto de psicose.
Cada estudo preterido é um pouco de franqueza.
Todo amor perdido é um órgão falecido.
Ulian, 2012
Cada medo que se instala é uma dor já incubada.
Cada peso que se sente é uma ausência do riso.
Cada porre que tonteia é um idílio aproveitado.
Cada corrente que se quebra é um fato selado.
Cada tragédia que se instaura é um pesar que se afasta.
Cada ente que se vai é uma dúvida espelhada.
Cada sentimento que se esvai é uma hora repetida.
Cada dúvida enraizada é uma coragem emancipada.
Cada consicência liberta é um assomo incontrolado.
Cada olhar enfurecido é um abraço destrançado.
Cada sentença proferida é um percalço imaginado.
Cada batalha perdida é uma morte instituída.
Cada membro que dói é um quê de desalento.
Cada fonte que seca é um futuro abortado.
Cada paciência que termina é um atestado da derrota.
Cada tapa sentido é uma ferida dada.
Cada música calada é um sentimento partido.
Cada anúncio repartido é um alheamento desnudado.
Cada boca com fome é uma fonte de marasmo.
Cada vergonha ignorada é uma chance sincera.
Cada verbo desmedido é um ponto de psicose.
Cada estudo preterido é um pouco de franqueza.
Todo amor perdido é um órgão falecido.
Ulian, 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Less than a beat
His ex-wife and his ex-lover were kissing in front of him, on the sofa.
"Hey, I'm here." yet the women didn't stop.
It is of no avail. In that fraction of a lifetime when love happens, love only exists. Lovers are oblivious to all but their love. In that moment there is nothing but their love, and they are oblivious, blissfully, blessedly oblivious to anything but their love.
"Hey, I'm here." yet the women didn't stop.
It is of no avail. In that fraction of a lifetime when love happens, love only exists. Lovers are oblivious to all but their love. In that moment there is nothing but their love, and they are oblivious, blissfully, blessedly oblivious to anything but their love.
domingo, 2 de dezembro de 2012
Intimismos
Rosas tristes são piores que cabeças
de defunto, assim espalhadas pelo chão. Não dormem – estão
chorando acordadas, crescendo para apodrecer – pelo chão.
1
Dizem de solidão e fracasso –
xipófagos. Um atado ao outro em elos de carne. Quando eu acordo pela
manhã, se me sinto só, engano-me: está comigo a solidão,
fazendo-me companhia, e conosco mais um, que me condena a essa
companhia solitária.
Não fui vencido. Deus, não fui! Só
se é derrotado quando há luta, e eis que nem luta houve. Houve
apenas duas coisas – fracasso, e solidão.
2
Nada acaba. Tudo morre. Morrem as
pessoas, as coisas, os sentimentos, as memórias, as impressões, os
significados, as leituras, os pensamentos. Morte, morte, morte,
morte, mortes. A todo tempo algo está morrendo, alguma vida
fracassando, alguma existência falhando. Algo morrendo pela última
vez. O espírito enlutado é aquele coitado que vive na verdade,
incapaz de se desvencilhar da crueza de um mundo de morte, fracassado
no esforço de fugir para um mundo de alheamento, desvencilhado desse
sopro, dessa ideia, desse constante despertar para acabar, de morte.
3
Dizem que ideias, uma vez mortas, estão
mortas para sempre. Sentimentos esquecidos, impressões perdidas,
algumas deidades obscuras, textos a lápis. É a praga da sanidade, é
o fardo da memória, é a tristeza da consciência: querem nos fazer
lembrar de tudo, pensar sempre, e no que pensar, quando tudo morre e
do que lembramos, até morrer, é que morreu aquilo que fomos, que
sentimos, que pensamos. Não há tristeza nem felicidade no existir
pelo existir – não há nada, e se é essencialmente o que se
parece. Deixa-se de ser, pois não há “ser”, não há “eu”.
Nada há.
4
Quando um sofre, sofre essencialmente
só, pois é só sua a dor que sente. Dois ou mais podem beber da
mesma dor, diminuir no mesmo ocaso, mas a dor é um privilégio da
individualidade. Milhões passam fome, e o desempregado não para de
chorar. O homem enviuvou-se, e a menina sem o cinema não deixa de
estar triste. Há dores e dores, há pessoas e pessoas, há peitos e
peitos. Cada chave abre um trinco por vez, cada dor retorce um
mediastino diferente, cada perda lastima um choro sem par.
5
Pode haver amor de um? Paz de um lado
só? Amizade de um único representante? Ou há sentimentos e
impressões que só existem em conjunto?
Pergunto-me: para que?
Erro do sujeito? Ilusão do iludido?
Cegueira do indivíduo?
Quão rápido damo-nos conta da ilusão,
vemo-la real; e tão devagar é o fim, a morte, a partida. Zarpa o
barco sem demora, célere sob o vento auspicioso e a maré alta,
tantos crendo na ilusão do desembarque, que só existe em sonhos, e
na chegada vindoura, que na partida e na viagem não existe. E como é
devagar o naufrágio, lento o soçobrar, difícil baixar tão dentro
do mar – e a razão, iludida, nos faz crer quando dizem ser rápido,
ou pouco.
6
Há desalentos, mas para alguns há
alento. Há dores, mas para algumas há cura. Há sonhos, mas eles
não têm nada. A realidade em nada condiz com um sonho – o sonho é
integrante da realidade – se é sonhado, é real – e não a
antítese do que os sentidos do corpo podem sugerir.
Acontece, no entanto, que os sonhos são
mais bem sonhados sem expectativas. Muito rápido a esperança passa
de bálsamo a veneno, de armadura a ilusão; de alento há desalento.
7
Pode a morte ser um despertar se a vida
é um sono do espírito? O homem crê, sonha, espera, se ilude,
suscita. E isso tudo normalmente ele faz só. O homem ama, chora, ri,
caminha e morre. E isso, vez ou outra, ele pode fazer acompanhado.
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