segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pirapólogo - uma publicação cheia de segredos

Um texto sob encomenda!


"Pirapólogo"
Um dia, um prego apaixonou-se por um pedaço de tábua. Ah, como ele amava aquele pedaço tão distinto de madeira...
E veria o prego, em sua emoção ferrosamente exaltada, todos os buracos naquela tábua? Veria como havia ali o medo de cupins e as feridas deixadas pela umidade de Joinville?

E o prego queria tanto que dessa vez o martelo o entortasse sobre aquela tábua em específico! Queria tanto ver de perto as falhas da madeira, queria tanto poder adentrar naquele mar de celulose entristecida e enferrujar na sua carne lenhosa... e seca... e queria tanto ferir-se em suas farpas!

Mas o martelo ainda batia para desentortar o prego, sem nenhuma consideração por sua cabeça, sua ponta frágil e seus sentimentos mais atômicos. O pobre prego enferrujava sua tristeza ao passo que nenhuma pancada o aproximava da tábua tão querida, tão inerte naquela parede capenga. Onde estava aquela tábua mesmo? Talvez em mural de biblioteca ou casa de esquina reformada ou um ponto de ônibus, do lado da sétima árvore na rua Blumenau.
Pobre prego... o prego não aguentava mais.

E, seguindo as guias de Machado, coloco agora que um amigo, ao ler estas linhas, disse: "Também eu tenho sido prego..." Mas não ouço o resto. Fiquei com dó do prego...
E a madeira, tenho certeza, está triste também.

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