quinta-feira, 13 de outubro de 2011

::: Musa Impassível, Francisca Júlia

Quando o soneto foi publicado no jornal A Semana, houve grande polêmica, pois o crítico João Ribeiro não conseguia acreditar que uma mulher fosse a autora dos versos, que seguem:

Musa! um gesto sequer
de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie
o cândido semblante!
Diante de Jó, conserva
o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo
olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero
a lágrima; não quero
Em tua boca o suave
e idílico descante.
Celebra ora um fantasma
anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de
um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio
d'ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma
harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma;
a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem,
com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um
calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor
de mármores partidos.


Francisca Júlia foi a maior poetisa do Parnasianismo Brasileiro e nunca foi estudada com o destaque que merece. Seus amigos homegearam-na com um monumento em mármore a ser colocado em seu jazigo, e entitulou-se a escultura "Musa Impassível", atualmente guardada no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

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