Silence is the dearest companion of all.
It asks nothing of a Being
that wouldn't be willingly given
A Song or two, and loud screams,
Some meaningless laughter and whining,
And then silence would again be company.
sexta-feira, 28 de março de 2014
segunda-feira, 24 de março de 2014
A Pluralidade do Sujeito
Percebi que o que tenho vivido é o Idiota. O Eu, aquele de hábito, virou recluso e fechou-se de tal modo que eu não o encontro mais. Não sei mais dele, ou sei lá, de mim. Não me manda carta, não me escreve nem para dizer se está vivo. Apenas escuto falar a seu respeito quando o Escritor passa e deixa bilhetes ou pistas que me remetam a mim. Isso porque não me mando carta, não me escrevo nem para me dizer se estou vivo.
O Recluso, não sei se pobre coitado ou querido e estimado amigo que partiu, deixa suas marcas também. Indeléveis até o próximo tempo de inconstâncias. Agorafobia. Que fim para mim.
O Idiota é que tem que tocar a vida. Trabalha. Toma café. Fala. Tem vivido há mais de ano. Aprendeu a lidar com o relógio e com a boca e com a cama, mas não se pode exigir calor do inverno ou lambidas fiéis de uma cobra letárgica. Porque é essencialmente Idiota, ele, eu, não que o inverno ou as cobras sejam idiotas. O Idiota sou eu.
O Escritor, eis-me aqui mediando um conflito estranho. Uma guerra de ausências. Uma face para a qual os outros dois não parecem ligar. Não me incomoda isso. O desprezo, podem queixar-se alguns, é um fardo amargo e perturbador, mas alguém precisa ter por legado o esquecimento. Alguém precisa herdar a indiferença. Alguém precisa ser o corredor, pois o mundo está cheio de quintais e grandes salões.
Sou mais de um, e todos eus não nos comunico.
O Recluso, não sei se pobre coitado ou querido e estimado amigo que partiu, deixa suas marcas também. Indeléveis até o próximo tempo de inconstâncias. Agorafobia. Que fim para mim.
O Idiota é que tem que tocar a vida. Trabalha. Toma café. Fala. Tem vivido há mais de ano. Aprendeu a lidar com o relógio e com a boca e com a cama, mas não se pode exigir calor do inverno ou lambidas fiéis de uma cobra letárgica. Porque é essencialmente Idiota, ele, eu, não que o inverno ou as cobras sejam idiotas. O Idiota sou eu.
O Escritor, eis-me aqui mediando um conflito estranho. Uma guerra de ausências. Uma face para a qual os outros dois não parecem ligar. Não me incomoda isso. O desprezo, podem queixar-se alguns, é um fardo amargo e perturbador, mas alguém precisa ter por legado o esquecimento. Alguém precisa herdar a indiferença. Alguém precisa ser o corredor, pois o mundo está cheio de quintais e grandes salões.
Sou mais de um, e todos eus não nos comunico.
"Mad Man", arte de Sakimi chan
[http://sakimichan.deviantart.com/]
[https://www.facebook.com/pages/Sakimi-chan/1409836239257534]
[http://sakimichan.deviantart.com/]
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sexta-feira, 21 de março de 2014
No Leito
Consegui chegar a acreditar que seria bom dividir momentos com mulheres cujos nomes eu não sabia e nunca ficarei sabendo. Os momentos passaram, bons, mas sem seus nomes as mulheres não ficaram nas memórias. Foram folha no fluxo constante de um rio meu. Deriva nas águas do leito.
E talvez tenham passado assim porque, afinal, sou mais que uma criatura apaziguada - coloco-me em situações de pressão. Agrada-me essa ideia, a de que é possível a gente se colocar em uma situação tão tensa que a única opção é a mudança. Mudar. Evolução. Mudança de curso.
Porque o que me excita é a inteligência, e a simpatia. A benignidade de apanhar folhas e pedras, ou de olhar para a água corrente sempre que ela estiver visível. E me atiça um sorriso bonito encimado por olhos que revelam mais do que escondem, porque prefiro me afogar em mar raso e conhecido a perder o lenho em águas estranhas cheias de promessa.
Porque o que me atrai é aquela situação de perigo que só vem através da calma e da familiaridade. Faz meu sangue correr porque é incerto, porque é uma constante insegurança, ou uma insegurança tamanha que não me permite sair da defensiva e da incerteza senão com grande esforço e paixão, para daí aproveitar, como um prêmio, um instante de segurança e paz, flutuar nas águas do rio. Pelo leito.
Não ter conforto não é desconfortável. Não é desconfortante. Nem é desconcertante. É o que quero. É ter que evoluir por causa daquilo que eu amo e por causa daquilo que me atrai, por causa daquilo que me chama e, quem sabe, por causa daquilo que me quer. A isca, para mim, não servirá se for entregue na superfície, mas tampouco me terá se estiver tão fundo que não se possa perceber. Fosse eu o peixe, na verdade, eu morderia o anzol sem artifícios apenas para ter que descobrir um jeito de me livrar do ponteiro e do meu sangue e de alguma dor, mesmo que no leito.
É dessa sorte se perder, às vezes, ou sofrer danos que aparentemente ficam na memória sugerindo que já se passaram tempos melhores. Nem tudo que causa dano é inimigo. Nem todos que se perdem já se encontraram. Mas se esses dias, se essa vida, se essa coisa é o rio, é bom saber que ele segue para desaguar em mais fluxo. E que por muito tempo ele passa em leito.
E talvez tenham passado assim porque, afinal, sou mais que uma criatura apaziguada - coloco-me em situações de pressão. Agrada-me essa ideia, a de que é possível a gente se colocar em uma situação tão tensa que a única opção é a mudança. Mudar. Evolução. Mudança de curso.
Porque o que me excita é a inteligência, e a simpatia. A benignidade de apanhar folhas e pedras, ou de olhar para a água corrente sempre que ela estiver visível. E me atiça um sorriso bonito encimado por olhos que revelam mais do que escondem, porque prefiro me afogar em mar raso e conhecido a perder o lenho em águas estranhas cheias de promessa.
Porque o que me atrai é aquela situação de perigo que só vem através da calma e da familiaridade. Faz meu sangue correr porque é incerto, porque é uma constante insegurança, ou uma insegurança tamanha que não me permite sair da defensiva e da incerteza senão com grande esforço e paixão, para daí aproveitar, como um prêmio, um instante de segurança e paz, flutuar nas águas do rio. Pelo leito.
Não ter conforto não é desconfortável. Não é desconfortante. Nem é desconcertante. É o que quero. É ter que evoluir por causa daquilo que eu amo e por causa daquilo que me atrai, por causa daquilo que me chama e, quem sabe, por causa daquilo que me quer. A isca, para mim, não servirá se for entregue na superfície, mas tampouco me terá se estiver tão fundo que não se possa perceber. Fosse eu o peixe, na verdade, eu morderia o anzol sem artifícios apenas para ter que descobrir um jeito de me livrar do ponteiro e do meu sangue e de alguma dor, mesmo que no leito.
É dessa sorte se perder, às vezes, ou sofrer danos que aparentemente ficam na memória sugerindo que já se passaram tempos melhores. Nem tudo que causa dano é inimigo. Nem todos que se perdem já se encontraram. Mas se esses dias, se essa vida, se essa coisa é o rio, é bom saber que ele segue para desaguar em mais fluxo. E que por muito tempo ele passa em leito.
quarta-feira, 19 de março de 2014
De Mil
Estou cansado.
Por favor não me perguntem o porquê de eu estar cansado.
Estou apenas isso. Cansado.
Não pedi que me perguntassem o porquê de eu estar cansado.
Apenas isso, estou cansado.
Cansado.
Como estou cansado de não dizer que estou cansado, foi isso
o que eu disse.
Que estou cansado.
Só isso. Não me perguntem, eu peço, o motivo de eu estar
cansado.
Nem eu sei. Estou cansado demais para saber.
E mesmo se eu soubesse, estaria cansado demais para entender.
E mesmo que entendesse, cansado como estou não falaria.
E mesmo que eu falasse, cansado assim não escutaria.
E ao não escutar, sendo questionado, eu ainda mais me
cansaria.
Estou cansado.
Ando tão cansado, na verdade, que nem consigo descansar.
Faz anos que não descanso.
Anos em que venho me cansando. Um cansaço latente,
impertinente, imponente.
Cansativo.
Eu poderia fazer prosa, ou então algum poema rimado e
divido. Mas não dá.
Simplesmente não dá. Por quê?
Estou cansado. Gente cansada não consegue se animar a contar
sílabas poéticas.
Gente cansada tem dificuldade em se acertar com a gramática.
Quem sente cansaço não concatena bem na sintática e nem
tripudia pela ortografia.
É, no máximo do seu mínimo, capaz de rebuscar, porque a
dificuldade não exige que se canse tanto. Embora viver canse.
Cansado.
Não cancionado.
Nem casado.
Nem caçado.
Só cansado.
Cansado que mais me canso.
Cansado que canso.
Apenas isso.
Só isso.
Cansado.
Cansa.
domingo, 9 de março de 2014
Um trecho
Trecho do primeiro capítulo de uma história que venho trabalhando aos poucos.
(...)
Empédocles. Aquele cara chato que ficava mendigando a atenção dela. Não
sei bem porque ele tinha esse nome, talvez fosse erudição dos pais. O coitado
não aguentou de saudades e numa overdose de tristeza, comiseração e Send me an Angel dos Scorpions ele decidiu se jogar da ponte
do Rio das Almas.
Também, caso não tenham
percebido, ela é daquele tipo de mulher que junta você e as encrencas.
Claro que podem não ter
percebido! Eu mal comecei a contar.
Acontece que pouca gente deu
importância ao fato do programador da empresa ter faltado naquele dia. Ele
nunca faltava, mas quando finalmente faltou... ninguém percebeu. Ninguém deu
bola.
E assim foi que, por volta das
catorze horas de domingo um grupo de montanhistas, escaladores e aventureiros
profissionais e amadores chegaram até a sombra do portal para o parque Monte
Alma, todos vestidos com aquelas roupas de esporte e trilha que tanta gente
compra porque acha legal mas nunca usa no mato ou na trilha.
Eles começaram a se dividir em
grupos para limpar o local. Uma rave recente havia certamente emporcalhado tudo
por ali. Era proibido fazer uma festa tão barulhenta em um parque, mas a
polícia nem dera as caras por lá.
Um dos grupos estava menos
eficiente porque seu membro mais pró-ativo e mais capaz estava lutando uma
batalha em sua própria cabeça. Ele estava tão distraído que já havia colocado o
capacete de escalada como se fossem dali direto para a montanha.
Ele ainda estava pensando na
ruiva das sardas e das meias de arrastão. Ela era aquele tipo de garota que une
você às encrencas. Era mais um daqueles momentos em que ele se odiava, se
ridicularizava, se consolava e se enchia de esperança – tudo às socapas e às
etapas, conforme ia pensando sua situação. Ele queria ela. Simples. Sempre.
Demais. E ela nunca vinha o suficiente, o que ela se fazia para ele nunca era o
suficiente para ele. Ele precisava de mais dela. Um vício tóxico, talvez, pela
carne e pela voz dela, pelo que ela contava da vida dela para ele, pelas
reflexões que ela fazia ao dizer que havia algo de errado com a cidade, pelo
olhar dela que injetava nele alguma coisa que o fazia escravo e desesperado por
dominar e obedecer.
E nessa querência desesperada
que era física porque misturava as urgências de um animal no cio e ao mesmo
tempo mental e abstrata porque envolvia noções mal curadas de romantismo e
paixão insensata com toques de emoção explicada, ele ia se consumindo num vício
ingrato que não lhe fazia sensato. A fé se erodia. Como o mais miserável,
abjeto e baixo dos viciados, ele sabia o que era aquela alegria intensa e
única, pura e inegável que o veículo e fim do seu vício lhe trazia, apenas para
afastar aquele vulto do vício em si e todo o vazio e sofrimento que derivam
dele.
É querer fugir desesperadamente
do sol, não aguentar sua luz, tremer e murchar diante do seu brilho. Então
chega uma sombra em sua casa que fecha todas as cortinas, bloqueando toda luz,
salvo por uma única fresta deixada talvez de propósito por onde entra um único
facho. Aquele facho é luz, e a luz se teme, mas é tão pequena diante de tanta
escuridão que ela parece apenas uma lembrança, um agouro, um perigo distante,
momentaneamente esquecido.
Cada minuto passado com ela
tinha o valor de horas porque ele sentia esse desespero por ela e o desespero
de saber que tinha apenas algum tempo com ela antes de tudo se acabar e voltar
a ser desesperadamente como antes. Um nojo. Um tédio. Quando as coisas davam
certo sem ela, era tudo pela metade, tudo desconexo. A felicidade intensa que
embolava suas entranhas só vinha dela desde quando ele conseguia se lembrar que
lutava para ser contente.
Ficar com ela. Que delícia de
sensação. Ela entrava pela porta do apartamento e era como se a vida valesse a
pena, cada segundo. Não havia mais problemas, não havia mais perigos, não havia
mais preocupação. Só havia ela, e ele, e o tempo. A distância ia ficando cada
vez mais curta. Mas o tempo passava junto com ela, e cada segundo daquela
intensidade de carne e de sentimento se desfazia porque estava mais perto do
fim inevitável. Algo tão bom não poderia durar muito, e essa ideia martelava o
cérebro dele com a força e a certeza de um tiro a queima-roupa.
Cada abraço, cada beijo, cada
olhar dispensado a ela era um gesto de extrema fé e prazer, mas manchado pelo
pesar de saber que podia ser o último. Ele estava abraçando o vendaval,
beijando dinamite, observando com calma e contentamento a mais violenta e
instável das reações químicas sob um controle estranho e não natural.
Vício. Alívio. Objeto e ser.
Tanta emoção e carne. Ela entrava na casa dele, uma sombra. O sol ficava lá
fora, barrado. Mas havia algo do sol que entrava, lembrando que o tempo é claro
e passa, lógico. Mas foda-se. Ela fechava a porta. Ela trancava a porta do apartamento
dele. Ele sabia que se olhasse pela janela veria ali a imagem embaçada de um
assassino, de um ladrão, de um maníaco. Mas ela estava ali, e ele sentia-se
isolado. Bem. De bem. Em um estado estranho e caótico demais, nervoso demais,
desesperado demais para ser chamado de paz.
– Rapaz, agora ferrou! – E
como se arranca coisa de coisa, ele foi arrancado daquela confusão de
pensamentos de merda que não o levariam a nada. Olhou para o lado e viu um de
seus companheiros do clube de escalada olhando para baixo com os olhos todo
espanto.
sábado, 1 de março de 2014
Metades Vivas
Enviuvei mais de uma vez e continuei meio vivo. Nunca, contudo, conheci a morte por vias de fato. Ignoro-lhe as feições: Passe ela por mim na rua, não a reconhecerei.
Sou viúvo, então, de gente viva. Meu coração morreu aos poucos com meus amores partidos. O resto vive com minhas amadas. Eu morri por nós, de enforcamento.
E sempre morri às metades: Acabou tal amor, metade de mim morreu. A metade que sobra que ame de novo.
Sou, assim, comboio de corda falecida que perdeu muitas e muitas metades. Para o diabo com a matemática da lógica e das quantidades: Sou o luto dos velórios de minhas várias metades que amargaram mortes tristes e arautaram viuvez por gente que segue viva.
Mas o sentimento morreu - diz para mim vez ou outra a tia velha que prepara e serve o cafezinho nos velórios. E sentimento vive?
Sou viúvo, então, de gente viva. Meu coração morreu aos poucos com meus amores partidos. O resto vive com minhas amadas. Eu morri por nós, de enforcamento.
E sempre morri às metades: Acabou tal amor, metade de mim morreu. A metade que sobra que ame de novo.
Sou, assim, comboio de corda falecida que perdeu muitas e muitas metades. Para o diabo com a matemática da lógica e das quantidades: Sou o luto dos velórios de minhas várias metades que amargaram mortes tristes e arautaram viuvez por gente que segue viva.
Mas o sentimento morreu - diz para mim vez ou outra a tia velha que prepara e serve o cafezinho nos velórios. E sentimento vive?
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