Sou o assomo místico e decadente em mim. Sou o que não
presta em mim, sou o que não dá pra salvar de mim mesmo. Sou a parte de mim que
está em decadência, sou apenas lembrança do resto de mim, que morreu, foi
sequestrado ou se perdeu. Sou o que sobrou, um restolho, ou sou aquilo que
ficou porque ninguém quis, nem eu. Sou a soma de restos, um conjunto de
fragmentos, um amontoado de partes que funcionam em dissonância. Ilhas sóbrias
e sombrias num mar de álcool, nuvens azuis ou sem cor no firmamento verde, um
arrebol vermelho que nunca desponta, terras perdidas na imensidão vazia. Sou o
silêncio de muitas vozes que competem entre si, o silêncio perdido de poucas
razões quando compito por uma atenção genérica e maioritária dentro de mim, que
agrade a mim. O lado bom, e há, é que esse templo em escombros, essa ruína em
ruínas, não é simples estrela no vazio. Pela lógica de luz que fique no vácuo, sou constelação.
Constelo: constelam, minhas partes, todas juntas.
Constelo: constelam, minhas partes, todas juntas.
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