sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Clarividência

   Eu a imagino rindo, e lembro assim de todas as memórias que partilhamos, todas as coisas que vivemos juntos. As nossas férias, os nossos sob as árvores, o sol nos seus cabelos, as idas e vindas por entre as pessoas, as festas com os amigos, as noites de brigar e as de perdoar.
   E aquele dia em que quase perdemos o barco? Corremos pelo cais, alguns passos apenas, e alcançamos a embarcaçao no último instante. Nada foi melhor naquela viagem do que aquela corrida pelo cais, rimos durante anos, sempre que lembrávamos disso no natal.
   E entao fomos para nossa casa, a nossa casa, e ali vivemos uma única vida, pois embora sempre separados, éramos um só, sempre juntos.
   Mas um dia eu acordei, e estava só. Nao havia ninguém do outro lado do travesseiro, ninguém ali em que eu pudesse me espelhar. O vazio dormira comigo e mme acordou com seu silêncio. Você nao estava mais lá. Tínhamos apenas poucos anos e pouca vida juntos, e tudo o que lembrei, esqueci. Eu estava nos meus lençois e você provavelmente devia estar nos seus. Foi tudo um sonho que se sonha acordado? Ou foi uma vida vivida dormindo da qual um dia se despertou, para viver?
   Uma vida torta. Um caminho estranho. Um pedido esconso. Uma prece surda.
   Predirei o passado, lembrarei do futuro.

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