Durante quarenta e três anos tentei
ser um poeta. Percebi com o passar do tempo que nada eu escrevera
naquela página, sempre em branco, sempre comigo. Nem mesmo uma data,
que riscada fosse várias vezes, eu pintara naquela folha. Durante
anos ela permaneceu do mesmo modo que veio a mim, marcada talvez
apenas pelo meu cotovelo, que segurava a cabeça distraída, ou pela
carícia da minha mão, automatizada no pétreo esforço de fazer
pender uma caneta inexpressiva.
Durante quarenta e três anos tentei ser um poeta. Percebi um dia que me casei em sonhos com uma moça que me pegara pelo nome – vi seu nome numa lista e aquele nome me pegou. Apaixonei-me por um nome, pego pela palavra como, sempre fui. Depois do nome veio a moça cuja tez o precedia, e por ela enamorei-me além do que as palavras podiam dizer. Divorciei-me destas, em litígio impensado, e não vi que solteiro era poeta, enamorado era apenas namorado.
Percebi um dia que mudamos para Roma porque ela é católica, embora eu tivesse apaixonado-me por um nome outro, Reikjavic. E, abraçando-a, escondida no bolso a chave daquela casa em Roma que ela achava que ia deixar e que eu não queria deixá-la saber que já era dela, perguntei-lhe se se lembrava de quando nos conhecemos. E ela sonhou novamente nos meus braços como dera-se nosso encontro: eu lera seu nome numa lista e estava apaixonado.
E quando, de mudança, aceitando que Reikjavic não era minha, achei uma folha em branco. Reconheci-a e ela me reconheceu.
“Durante quarenta e três anos tentei ser um poeta.” Disse eu, para mim e para a folha. Um de nós chorou uma lágrima quase seca, daquelas que brotam nos olhos já quase mortas antes mesmo de rolar pelo rosto quase morto.
Creio guardar ainda aquela mesma folha em algum canto em alguma caixa em algum canto. Ainda não sou poeta, não sei o que quero ser, não sei se quero saber o que é ser poeta. Acho que se tivesse que escrever algo nela, antes de morrer, escreveria apenas uma coisa.
Durante quarenta e três anos tentei ser um poeta. Percebi um dia que me casei em sonhos com uma moça que me pegara pelo nome – vi seu nome numa lista e aquele nome me pegou. Apaixonei-me por um nome, pego pela palavra como, sempre fui. Depois do nome veio a moça cuja tez o precedia, e por ela enamorei-me além do que as palavras podiam dizer. Divorciei-me destas, em litígio impensado, e não vi que solteiro era poeta, enamorado era apenas namorado.
Percebi um dia que mudamos para Roma porque ela é católica, embora eu tivesse apaixonado-me por um nome outro, Reikjavic. E, abraçando-a, escondida no bolso a chave daquela casa em Roma que ela achava que ia deixar e que eu não queria deixá-la saber que já era dela, perguntei-lhe se se lembrava de quando nos conhecemos. E ela sonhou novamente nos meus braços como dera-se nosso encontro: eu lera seu nome numa lista e estava apaixonado.
E quando, de mudança, aceitando que Reikjavic não era minha, achei uma folha em branco. Reconheci-a e ela me reconheceu.
“Durante quarenta e três anos tentei ser um poeta.” Disse eu, para mim e para a folha. Um de nós chorou uma lágrima quase seca, daquelas que brotam nos olhos já quase mortas antes mesmo de rolar pelo rosto quase morto.
Creio guardar ainda aquela mesma folha em algum canto em alguma caixa em algum canto. Ainda não sou poeta, não sei o que quero ser, não sei se quero saber o que é ser poeta. Acho que se tivesse que escrever algo nela, antes de morrer, escreveria apenas uma coisa.
Um nome.
29/07/2012
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