terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Cronista Incendiado

Um dia, amarrado à estaca, queimei. O fogo e eu tornamo-nos um só. Um só corpo sem corpo.
Virei cinzas. Minhas cinzas sopradas pelo vento foram. Aterraram tão longe, tão longe...

E com a chuva, misturei-me à terra. A terra e eu agora éramos apenas um. Voltamos a ser apenas um.
E foi na liga com a terra que conheci o ouro. Na liga com a terra, virei ouro. Tentei buscar o ouro. Mesmo amando tanto a prata...


Ainda hoje, quando já refeito e caminhando ao longo do corredor sempre que posso, penso os dias em que passei sem saber. Um só com o fogo, e o fogo ainda está em mim - assim o dizem. Quem sou eu para não acreditar? No abraço do fogo, na união com o fogo, comungando com as chamas... Não mais as sinto, não mais as vejo, tal como uma mancha na pele que passa despercebida pelos olhos acostumados. Mas não para os olhos atentos, mesmo quando moritificados.

Há fogo, então. Há ainda, talvez no centro do meu peito, talvez derretendo algo que ainda está mortalizável. Uma chama fria, sim, talvez, uma mera espécula branca...
O fogo funde o ouro. O fogo derrete a prata... Mas o fogo, se está, está tão fraco... E como fazê-lo arder se não pela queima, se não pelo sacrifício de um combustível inocente?

Há quem, com medo, espalhe o piche, há quem, com medo, jogue carvão ruim ou lenha barata... Mas agora que o incenso foi aceso, que o sândalo mais puro já se enamora de faíscas solitárias e desesperadas, como querer fazer arder tão incolor matéria?

É, há, talvez, fogo em mim. Algo distante e claro ainda queima onde meu coração abrasava. Talvez seja um reflexo de estrela já falecida, talvez um graveto apanhado que ainda queime, talvez um atiçador incandescente por suicidar-se nas chamas... Quem sabe... Talvez você saiba. Se souber, que jogaria às chamas para ver se ardendo estão? Que darias ao fogo de ruim para ele esfumaçar? Que farias ao fogo para ver o quão vivo ele é?

Ainda há ouro, ainda há prata... A pedra não pode quebrá-los, o fogo não pode derretê-los.
Mentira.

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