sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Mania de quê mesmo?

NÃO é de hoje que se vê exemplos de justiça no Brasil. Justiça capenga, na verdade. Imagino que por baixo daquela venda que tascaram na face dela não haja olhos fechados ou abertos, e sim órbitas vazias. Alas! Talvez no Brasil a justiça nunca tenha tido olhos para ver e a venda é mera vaidade, para nos privar de tão repugnante imagem.

Também não é de hoje que, durante os telejornais, escutemos notícias que nos remetem a fatos antigos, nos fazem lembrar de temas (e crimes) da nossa infância. Hoje, por exemplo, ouvi falar da soltura do menor de idade envolvido na mutilação do João Hélio, aquele menino de 6 anos arrastado do lado de fora de um carro três anos atrás. O então menor e mais três comparsas abordaram a mãe, roubaram o carro... mas não viram, despercebidos que estavam, uma criança pendurada do lado de fora.
Seis quilômetros depois e todo mundo sabe o que aconteceu. Como manda o ECA (estatuto da criança e do adolescente, que aliás tem uma sigla bem sugestiva) determina que um menor internado em instituições sociais para "recuperação" deve ser solto ao completar a maioridade.

Acho que a única coisa que ele recuperou de verdade enquanto passou um tempo internado sendo ameaçado de morte pelos coleguinhas infratores foi a fé na política brasileira, justa e igualitária: Ele e a família, às custas do Estado (id est, às custas de quem paga imposto), serão levados para outro estado e lá ele terá uma identidade nova e moradia porque estão sendo ameaçados de morte (assim como um número incontável de mulheres que apanham em casa, filhos de pais/mães bêbados, ex-mulheres, etc., muitos dos quais fazem pelo menos uma queixa nas delegacias antes de serem assassinados).

Creio que todos merecem uma segunda chance e que o governo dar proteção ao monstro rebatizável é uma boa alternativa para um recomeço. Não creio, também, que seja de todo mal apagar o passado na hora de redefinir o futuro (já que o que está feito jamais será desfeito). Mas achei uma atitude alienada, pra não dizer cega (pra não dizer burra) pelos seguintes motivos: O ex-assassino é uma das inúmeras pessoas que recebe ameaça de morte no país. Os que ameaçaram a ele e à mãe dele estavam presos com ele (perdão, internados com ele), enquanto aquele ex-marido covarde e imundo estava em plena liberdade até o dia em que entrou no salão da mulher e encheu ela de tiros à queima roupa (e depois fugiu, como bom covarde que é. Apodreça na prisão, lixo que não soube aproveitar a segunda chance).
Além disso, o ECA, as instituições para "recuperação"e o Código Penal Brasileiro estão tão aleijados e pobres quanto um trio de pedintes de porta de igreja (um cego, um surdo e outro mudo).
Leis fracas, policiais ineficientes, corruptos, insuficientes ou abandonados à própria sorte, falta de rigor na aplicação e cobrança da lei, advogados sem alma e sem mãe, criminosos ricos ou com cara de coitadinho, enfim. Se perguntassem minha opnião, aceitaria de bom grado que parte dos impostos que eu pago fosse destinada sim à reencarnação do monstrinho que arrastou o meninho por seis quilometrinhos (mas pediria para não debitarem dos mesmos impostos aquela verba para deputado que mora em Brasília viajar de avião pra Brasília. Nem pra panetone, não gosto muito de panetone). O ruim é que o governo vai dar casa e nome pra ele e vai deixar ele lá, virar as costas e só se preocupar se ele cometer outro crime (bolão, alguém?).

Educação começa em casa, se testa na rua e se vê refletida no governo, afinal, o exemplo vem de cima. Quanta gente mal-educada está por trás do ECA, das instituições e da trama penal do Brasil? Melhor não ser governado do que ser governado por gente incompetente.
Para os políticos, faltou levar palmada quando eram pequenos e roubavam os brinquedinhos dos irmãozinhos. Para quem defende o ECA como se o Código Penal fosse o Anticristo, aquele lugar-comum: Justiça é para todos. Quem comete crime de gente grande deve ser tratado como criança?
Mas para nós, meros mortais que colocamos a culpa de tudo em entidades abstratas (para as quais votamos de 4 em 4 anos) enquanto quebramos os espelhos, sobra o de sempre nessa época do ano...
CARNAVAL! AÊÊÊ!!!

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